Atolada!
Bem-vindos ao ambiente de guerra. Minha classe estava totalmente voltada contra mim e tão logo voltei a ser o saco de pancada, mas dessa vez ao menos podia contar com Guilherme e ambos matamos aula, ainda que prejudicasse cada vez mais minha reputação.
-É tão ruim chegar ao colégio e ao redor todos estarem rindo de você, te aporrinhando, te expondo a situações embaraçosas e ridículas que nem essa. Desde o pré eu não tenho sossego.
-Eu te disse desde o começo que essa guria não prestava, mas você não quis me ouvir.
Presumi que Van pudesse substituir Aline em meu coração, o que jamais viria a acontecer. Confiei em uma pessoa que não merecia nem mesmo um cumprimento.
-Se eu te disser que já fui apaixonado por ela, você acredita? – ironizou sentindo-se ridículo pelo que disse
-Por ela? – ainda conseguia me surpreender
-É... – coçou a sobrancelha – Menino da 6ª série não sabe o que faz...
Vanessa aos 14 anos ainda era esbelta, tinha cabelos longos cacheados e era a gostosona do colégio, embora já tivesse enfrentado uma gravidez e já fosse amigada com um traficante que hoje já é morto.
Gui não passava de um menino de 12 anos que nada sabia sobre a vida e se apaixonou pelas formas voluptuosas de minha ex-amiga, largando rock, amigos, estudo e família para encarar um relacionamento cujo saldo foram o bullying massivo que quase o fez desistir da vida, uma reprovação, cabelos curtos e traumas ao que se diz respeito a relacionamentos.
Guilherme terminou o namoro quando se deu conta de que Vanessa não o aceitava como era. Intrinsecamente, apesar da pouca instrução, Van possuía o poder de manipulação extrema, a ponto de fazer a menininha que mal beijava na boca se prostituir por um baseado e minha ‘sorte’ foi não ter ido mais longe que isso.
-Eu tentei me matar. A humilhação era tão grande que não dava mais pra eu suportar. Eu sei o que é entrar na sala e todos estarem rindo de você, falando mal. Eu sei o que é não ser bem-vindo, ter o orgulho pisoteado até a última migalha e sei o que é acreditar numa pessoa e depois a mesma mostrar que nunca mereceu seu apreço. Eu sei muito bem o que é isso, Tita, mas sei também que são nessas horas que a gente tem que se fortalecer e seguir em frente porque quanto mais demonstrar fraqueza, mais vão tripudiar...
-Se eu soubesse que ela tinha te feito sofrer, jamais teria me aproximado.
Estávamos sentados nos bancos de madeira da Praça do Japão e eu o abraçava com força porque sabia que Vanessa não pararia apenas de falar comigo. Ela era a versão favelada de Cássia e para me destruir iria até as últimas consequências, bem como ocorreu mesmo a partir do outro dia, quando juntamente com Márcio e Cris, empurrou-me da escada de 12 degraus.
Bem naquela noite eu mal consegui pregar os olhos graças a Invasão do Iraque. Bombardeios dentro e fora do colégio. O professor de Ed. Física faltou aula e Vanessa, de forma extremamente deselegante, inventou a todos que eu era homossexual e a assediei.
-Gosto de homem e não vou provar nada pra ninguém, ainda mais vocês. – tentei me defender e fui ignorada
Para provar minha heterossexualidade teria de ficar com Cleydson, um mano fedido e baforento. Com isso saí correndo e devia estar tão fora de mim que só recobrei os sentidos quando me encontrei esparramada em uma poça de lama vendo todos a minha volta rindo e apontando os dedos na minha direção.
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