Visita indesejável...
Meire fitou Vanessa dos pés a cabeça. Minha amiga, já acostumada com a vida e suas surpresas, me abraçou e quebrou todo e qualquer formalismo entrando em minha casa como se lá residisse também.
-Sou a Van, dona Meire. – fechou a porta – Vim passar a tarde com a Tita. – o almoço estava pronto – Que delícia! Adoro feijão cozinho com arroz. Sem igual.
Sentamos a mesa. É vero que Van não tinha um pingo de modos para se alimentar. Mastigava com a boca aberta, fazendo barulhos insuportáveis até para mim.
-Tita, você é animal, por acaso? Eu já não lhe ensinei que se mastiga com a boca fechada? – mamãe repreendeu indiretamente a mim
-Não. Não sou.
-Então, se não for pedir muito, mais modos, por favor.
Meire era intolerante a eructações. Van, bebendo todo o refrigerante de uma vez, me fez o favor de arrotar em alto e bom som, deixando-me mais constrangida diante de mamãe e eu sei que tudo sobraria para mim quando Vanessa fosse embora.
Van odiou a decoração de meu quarto e colocou defeitos em tudo, erroneamente me taxando de patricinha.
-Rock não ta com nada, gata. Coxuda que é coxuda se amarra num funk irado.
Abrindo o deck de meu rádio, Van tirou de dentro do sutiã uma fita branca a qual estavam gravados alguns funks ‘proibidões’.
-De presente. Assim você nunca se esquece de mim, gata. – ligou o som em um volume altíssimo – Vem sacodir esse rabo e não liga pra aquela velha careta que ela não manda mais em você.
O baile funk foi ‘interrompido’ por Meire, chocada e boquiaberta com as coreografias feitas por mim e Van ao som de Namorar Pelado – MC Pelé, febre dos últimos meses. Rispidamente mamãe avisou que no dia seguinte após a aula eu tinha uma consulta marcada em um psicólogo. Protestos e bofetadas à parte tive de comparecer.
Vanessa era legal, mas não podia conversar sério com ela, então fui visitar Gui, com quem desabafei. A ideia de ajuda terapêutica era de Raimunda.
-Você pelo menos tem que ir uma vez só pra ver se gosta ou não. Se gostar, ótimo; se não gostar, tem todo direito de não ir nunca mais. Ela não pode simplesmente te obrigar a fazer algo que você não quer. – aconselhou Gui
-Com Meire só existe uma opção. Contesta pra ver. – sentada na cama de Gui ao seu lado, dei um muxoxo - A Van tem razão mesmo... Eu devia ir morar na casa dela...
-A Vanessa não presta. Abre os olhos!
-Só porque ela fuma um baseado e é toda descolada? Fala isso como se fosse santo...
-Santo não sou, mas tenho discernimento. Uma coisa é ficar chapado em festas e outra coisa é viver chapado e levar mais gente para o inferno com você. – naquele momento eu não precisava de um pseudo-adulto bancando meu pai
-É o rabo sujo falando da bunda mal lavada... – estava revoltada até mesmo com ele
-Se quiser ser viciada, vá em frente. – terapia reversa
Van e estávamos nos tornando irmãs a ponto de eu dormir em sua casa todas as noites e conviver com sua família como se fosse a minha, até porque os Ribas eram simples, tinham seus barracos, mas acima de tudo eram unidos e se amavam.
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