Chapada...
-Vanessa, isso é droga. – talvez só eu não soubesse
-E daí? – me ofereceu um cigarro – É um barato. Experimenta.
-Deus que me livre e guarde. Eu não. – recusei e Van se levantou limpando a areia do short
-Então fique aí sozinha, menininha careta. – debochou e eu a empurrei
-Não tem nenhuma menininha careta aqui não.
Van sentou-se novamente, acendeu ambos os papelotes e me ensinou a tragar. Possuía vasta experiência.
-Antes de julgar dá uma tragada, pelo menos.
No início minha cabeça girava, minha boca secou e de repente eu não sentia nada, não me lembrava nem de quem era. Ria loucamente à toa e Van adorava isso.
-Relaxa, guria. A vida é muito curta pra ficar de cara amarrada. Nós somos lindas e só temos a ganhar.
Tão logo rugiu a fome de leão. Eu fazia questão de pagar um lanche a mim e Van. Entramos em uma panificadora aberta. Eu fui procurar as tortas. Servia qualquer doce. Comprei dois brigadeiros e os devorei instantaneamente bebendo uma garrafa de 750 ml de refrigerante em poucos minutos.
-Ta faminta mesmo, hein, gata? – saímos da padaria – Espero mesmo que esteja.
Van tirou de dentro do sutiã dois pacotes enormes de batata-frita os quais esvaziamos enquanto nos enveredávamos para um endereço o qual havia uma ‘festa de arromba’ promovida por um dos diversos amigos de Vanessa, popular e baladeira confessa.
O ‘amigo’ de Van morava em uma linda mansão. O som envolvente predominante era o funk, estilo com o qual não era ambientada. Até pessoas de determinadas corporações utilizando uniformes, diversos celulares e portando armas de fogo estavam entre os convidados.
-Espero que esteja pronta para passar a noite toda requebrando, Tita. Dormir é para os fracos. – segurando em minha mão, apresentou-me a um sujeito – Ei Ronei... – assoviou – Essa é a Tita.
-Levando outra para o mau caminho?
-Enturmando a gata e a ensinando a viver. – ironizou Van
-A Van não presta. – brincou o tal do Ronei
Ronei era um afamado traficante que comandava com mão de ferro a favela em que Van morava. Minha amiga tinha uma verdadeira idolatria pelo homem, ainda que pelo porte não fizesse meu tipo. Só a conta bancária levava qualquer tchutchuca ao delírio.
-Ronei é o deus lá do gueto. Mexe com ele que amanhã você é encontrado no formigueiro.
Enquanto aprendia alguns passos de funk com as acompanhantes dos traficantes, Van sumiu e retornou algumas horas depois com dinheiro suficiente para sobrevivermos o restante do carnaval.
Bebi tanto que, segundo Vanessa, aprendi a dar beijo triplo, quádruplo e sim, beijo lésbico. E com ela, que afirmou o quanto eu beijava bem.
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