Liberando geral!
Meire ostentava uma atípica serenidade. Minha reação não se poderia ser descrita com meras palavras.
-Filha, quanto tempo! – abriu os braços e eu educadamente a correspondi
Nunca antes havia sentido tanta saudade dela, mas teríamos muito tempo para nos vermos. Em quase 3 semanas tantas coisas haviam mudado...
Apresentei o Gui e meus novos amigos a ela que foi bastante simpática com eles. A viagem a transformou em outra pessoa.
Quando entramos em casa, não pensei duas vezes e resolvi conversar sério com ela, usando a entonação daquela menininha cdf que ela conhecia e tanto se orgulhava, apesar de que naquele ano eu pouco estava ligando para os estudos.
-Acredita que a bruxa da Helena não tava querendo me deixar ir? Ela e o papai acham que eu iria, sei lá, fazer sexo nessa viagem. – fiz birra e beicinho
Mamãe alimentava uma antipatia gratuita pela Helena e seu maior prazer era contrariá-la.
-Essa Helena tem uma mente muito perversa. Quem muito enxerga maldade é porque o faria se estivesse no lugar, mas eu não. Sou uma mãe consciente e sei que estou agindo corretamente.
Ela sequer leu o bilhete e o assinou.
-Quero passar por média e quanto mais cedo já garantir notas boas, mais sossegada eu fico no fim do ano. Não concorda? - acrescentei, mesmo sem haver necessidade
-Quanto é que você vai precisar pra passar esses dias?
Eu não havia calculado exatamente quanto, mas tinha noção de que os preços lá no litoral são um tanto salgados. Somando com as pequenas economias já guardadas, o carnaval seria muito mais do que bom.
Em menos de meia hora minha mochila estava arrumada e minha mãe fez questão de me levar até a rodoviária, o que poderia comprometer todos os planos. Desconversei e pedi para que me deixasse em frente ao colégio, sustentando a desculpa de que o professor de geografia nos encontraria ali.
A emoção de Meire era inteiramente inédita. Choradeira, mil recomendações, beijos na testa. Eu não ia morrer e sim curtir o melhor carnaval da minha vida, mesmo que corresse muitos riscos, mas nada, absolutamente nada me importava mais que me divertir.
-Viu filha, fica só do lado dos teus coleguinhas e do professor. Não saia sozinha, muito menos no escuro. Trouxe alguma peça de frio? – estranho tanta preocupação - Não que vá nevar, mas é sempre bom portar na mochila porque se tiver algum trabalho de campo a noite o sereno pode te deixar resfriada. Não fale com estranhos sob hipótese alguma. – parecia desolada com minha partida - Se alguém estiver bebendo ou fumando, saia de perto e se oferecerem, JAMAIS aceite, por favor, minha filha. Vê se me liga quando chegar e sempre que quiser, só pra eu saber que ta tudo bem com você, ta bom, princesinha? Mamãe já disse que te ama? – nunca, aliás - Se cuida e boa viagem.
Ela pensou que eu ia pra um retiro espiritual, coitada!
Confesso que por uma questão de segundos quase pensei em desistir de tudo ao ver as lágrimas de mamãe. Ela não merecia ser enganada daquele jeito. Tarde demais!
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