A princípio de conversa, Meire jamais me daria permissão para ir à festa de Cris, no entanto, com a voz embargada e sem muitos poréns, disse-me logo um sim.
-Mas vê se não vai aprontar.
Tive de dizer que era Festa do Pijama. Havia tempos que eu não mentia mais. Era questão de sobrevivência. Se eu fosse sincera o tempo todo não faria nada na vida.
Finalmente fui ao shopping sem ser com minha mãe e Horácio. Tiramos fotos, tomamos sorvete e fomos ao cinema. Tudo por cortesia da Cristina, que tinha a melhor condição financeira do grupo.
Olhamos muitas vitrines e babamos por uns vestidos de balada que vimos numa loja. Cris era conhecida dos donos e também pudera, vai lá quase todo mês. As meninas e eu observamos as roupas conformadas em nunca poder comprar nada.
-Por que não dão uma provadinha?-sugeriu a Cris
Um vestido preto de tule, cuja cintura ficava bem definida com espartilho me encantou à primeira vista, mas pelo preço minha mãe jamais me deixaria sequer olhar. Desejei ser rica para levá-lo.
Fomos nos arrumar no palácio em que a Cris morava. Evidente que eram ricos, pois até mesmo portão eletrônico possuíam e Carlota, a empregada, nos tratava como se fossemos da família nos preparando refrescos e sanduiches, até dando bronca na Cris por ela ‘não se alimentar corretamente’.
-Não sei como vocês meninas param em pé ficando horas a fio sem comer. Ainda estão em fase de crescimento e precisam se alimentar bem. – cochichava – Magreza nem sempre quer dizer beleza.
À parte disso, Cris era incontestavelmente linda. Mais do que Cássia, do que qualquer outra menina que conheci e ela parecia desconfortável, nos tecendo elogios, sobretudo a mim, que educadamente os aceitava sem muito sentir que os merecia.
O quarto da Cristina era lindo!
As paredes eram da cor lilás, os móveis eram todos projetados, de acordo com as necessidades da garota. Na escrivaninha um computador moderníssimo e muitos enfeites delicados, assim como a Cristina. O closet era um paraíso de roupas, calçados e acessórios da moda.
Lucas, irmão da Paloma, conseguiu comprar as bebidas e a Cris ainda estava convidando seus amigos para a festa que começaria por volta das 20h00min.
Sempre achei lindo usar cabelos ondulados, com cachos, mas minha mãe nunca me deixou experimentar. Meus falsos cachos, feitos com a escova da Cris, ficaram lindos e combinaram perfeitamente com o vestido e o sapato que iria usar.
A trilha sonora da festa foi escolhida pela Cristina que adora música de balada. Como eu também gosto, me senti em casa.
Logo às 19h45min chegaram os primeiros convidados. Todos já se conheciam e já iam direto beber e fumar, se agarrar em algum canto da casa. A Julia parecia babá do Rodrigo perguntando dele de 1 em 1 minuto e as meninas estavam me ignorando. Questionei-me se deveria mesmo ter vindo à festa.
O metaleiro Guilherme e seus amigos estavam importunando o Ricardo, que era amigo do Rodrigo. Esguio, indefeso e desastrado, era presa fácil da turma do Gui, que com frases ambíguas o debochava e o Kiko, ingênuo demais, não percebia, levava na brincadeira.
A dona da festa sumiu. A Julia viu o Rodrigo ficando com outra menina e foi ao banheiro chorar; as outras meninas a acompanharam. Além delas eu não conhecia mais ninguém por ali e falando com honestidade, se fosse pra ver novela mexicana, eu poderia fazer isso em casa.
Para piorar a situação, uns bêbados idiotas estavam mexendo comigo porque eu estava sentada no sofá de contorno da sala, com cara de poucos amigos, ou melhor, de nenhum amigo, irritada com as retardadices dos metaleiros, o cheiro de cigarro e comigo mesma também. Até que começou a tocar Romeo - Basement Jaxx...
Jamais imaginei que uma simples música teria o poder de modificar minha vida pra sempre, mas foi exatamente assim que aconteceu!
Ignorei quem estivesse ao meu lado e me pus a dançar na simplicidade de quem não conhece muitos passos e resolvi não me importar se tirassem sarro de mim na segunda-feira. Eis que o metaleiro zoador se aproxima...
-Ai dele se vier me fazer alguma pergunta ambígua e retardada. - pensei comigo mesma
Minha dança serviu pra aproximar de mim o metaleiro babaca. Perfeito! O que mais faltava acontecer?
As impressões que tinha sobre ele caíram por terra assim que abriu a boca e mostrou-se um garoto incrivelmente interessante, inteligente, atencioso.
A maioria dos amigos da Cris eram bêbados idiotas que viam as meninas apenas como mercadoria, contabilidade de beijos para contar aos amigos, transformando todas nós em meras putas. O Gui não era assim e à medida que ele falava eu me interessava mais em me permitir conhece-lo.
Ele era realmente roqueiro e veio à festa sem saber de verdade o que estava fazendo ali. Tudo isso até me encontrar...
-Você é parente da Cris?
-Amiga... E você?
-Colega...
Sincero! Senso de humor aguçado. Um pouco deslocado, mas totalmente autêntico!
-O que você ta achando da festa?
-Ta brincando? To adorando! Ainda mais agora que encontrei você!
-Idem.
-Você tem namorado?
-Não.
-Ta afim de alguém? De rolo? Ficando?
-Não. Por quê? Você ta?
-Não...
Estávamos novamente sentados no sofá e então ele se aproximou de mim...
-Quer ficar comigo?
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