-É bom que tenha mesmo! – berrou Sérgio cerrando os punhos
-Pois eu tenho.
-É bom que não mexa comigo, moleque. Ta bancando o macho na frente das menininhas, é? Pois pode esquecer, seu boiola porque eu não tenho nem um pouco de medo desses seus chiliques, muito menos paciência pra ouvir seus draminhas escolares.
Senti-me ineficaz. Adolfo precisava de mim e eu não sabia de que forma melhor auxiliá-lo. Minha vontade era amordaçar Sérgio e mostra-lo que estava errado quanto a Adolfo, mesmo que fosse suspeita para descrevê-lo.
Aline e eu, encolhidas na parede ao lado de Miriam, assistíamos a tudo com as mãos atadas. Se existia apetite, foi-se junto com a tranquilidade do que poderia ter sido apenas um jantar comum com algumas provocações subentendidas.
-Quase todo dia é assim. – admitiu Miriam
-Sempre? – perguntei
-Não tão sério, mas é quase sempre isso...
-Você sabe que eu já to cansado de ser tratado que nem um nada. – Adolfo gritou
-Mas você não é nada mesmo...
Sonia levantou-se e tentou abraçar o marido.
-Por favor, Sérgio!
Repelida, Sonia estava zonza. Adolfo tentou esconder-se por perto da cristaleira. Sérgio a derrubou para intimidar ao enteado. Ele sob o efeito do álcool poderia ser tão rude e troglodita quanto Meire.
-Agora se esconde, né, bichinha? Fala, fala, mas quando é pra ser homem se esconde.
-É que eu não converso com bêbados.
-Olha o respeito.
-Que respeito você tem por mim, hein? Respeite pra ser respeitado.
-Você não é nada, seu gordo inútil. A hora que eu quiser, te boto pra fora daqui e quero ver só.
-Quem não é nada é você. A corporação te aposentou por invalidez porque você era um vagabundo que só bebia e não fazia porra nenhuma. Nem cabo você chegou a ser.
Adolfo levou um forte tapa no rosto. Aline, Miriam e eu começamos a chorar. Sonia parou na frente do filho, ainda tentando negociar uma solução, um acordo, porém ambos estavam profundamente exaltados para qualquer embate. Os punhos eram a única arma ali.
-Por favor, acalmem-se! Vocês estão apavorando as meninas... – gritava Sonia aos prantos
Telefonamos para os tios de Aline virem nos buscar e eu pousei no quarto de minha melhor amiga. Aline e eu choramos a noite toda pensando o quanto Adolfo estava sofrendo. O que presenciamos ali foi uma pequena amostra do que o menino enfrentava.
Na semana seguinte Adolfo não compareceu ao colégio e eu não conseguia fazer nada além de chorar. Perdi 1 kg na dieta que consistia em acordar, ir para o colégio, bebericar água, voltar para casa e passar o dia no quarto sem querer ver ninguém. Aline sentia-se impotente por não poder nos ajudar. Ela telefonava para a casa de Adolfo, mas ninguém a atendia. Algo estava muito errado.
-Eu vou lá pessoalmente. – decidi sem o mínimo de noção
-E sua mãe? – Aline sabia da perversidade de Meire
-Dane-se ela. Eu vou. - retruquei
-Então eu vou com você. É melhor estar preparada pra tudo.
-Como assim?
-É só uma suposição, amiga.
-Não, Aline. Não é só uma suposição. É melhor me contar o que está acontecendo. Seja lá o que for, preciso saber.
-Ta pronta mesmo pra ouvir, Tita?
-Ta tudo bem com ele, não ta?
-Agora está, mas não estava.
-Não to gostando da tua cara, Aline. Não me esconda nada, por favor.
-Só me promete que não vai chorar?
-E por quê?
-Adolfo tentou se matar.
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