Bomba. Reação zero. Tremor pelo corpo todo. Gelo no estômago. As borboletas ainda existiam, mas me apavoravam e me condicionavam a aceitar o pior. Precisei respirar algumas vezes de dentro para fora. A notícia me soou como piada.
-Como assim, Aline? Adolfo é muito novo pra querer morrer. – ri
-Mas não é assim que ele pensa...
-É mentira, Aline. Ele ta se folgando só porque estamos perto do feriado.
-Eu bem que gostaria de concordar.
-Então... é sério? – meus olhos encheram-se de lágrimas
-Infelizmente sim, Tita. É muito sério. – ela me abraçou e eu chorei
-Ele não se feriu muito, né?
-Se não tivesse vomitado e sido acudido pela Miriam, você teria perdido seu namorado.
-E como ele está agora?
-Em casa e sendo ridicularizado pelo Sérgio.
-Que maré de azar. Ele ao menos volta ao colégio?
-Não quer, mas não tem outra opção.
-Então ele não quer mais falar comigo...
Aline me pedia para não levar para o lado pessoal, mas como evitar? Como não me culpar, não chorar? Eu ainda era inocente demais para ser ‘fria’.
No meu mundo infantil, via mortes nos telejornais e em novelas, porém sabia que os atores estavam todos vivos. Só os velhos morriam. Quando alguma criança por fatalidade falecia, chocava-me. Normalmente era em acidente automobilístico, quiçá afogamento ou bala perdida. Nunca por suicídio. Desconhecia alivio e profundidade do vocábulo, em partes porque sempre sonhei demais, amortecendo todo e qualquer pensamento negativo.
Quando Adolfo retornou ao colégio alguns dias depois, por recomendação de Aline evitamos tocar nesse assunto para não constranger Adolfo e mesmo sendo extremamente esquisito, tentamos curtir nosso namoro e aos poucos foi como se isso jamais tivesse acontecido entre nós. Fazíamos planos para a 7ª série, ambos aprovados como os melhores alunos da sala.
-Nós vamos estudar juntos até o 3º ano.
-Eu não queria ficar aqui até o 3º. Pretendo sair antes. – dizia eu, sonhadora como sempre
-Se você sair, nós saímos juntos. – Aline dizia
-Quero ir pra esse colégio onde vocês foram felizes.
-Vocês nem imaginam o que aconteceu...
-Coisa ruim, Aline? – coloquei as mãos no coração me preparando para o pior
-A filha do prof Vando e da Prof Daniela nasceu na semana passada.
Eu havia completado 12 anos havia exatamente uma semana e a filha dos meus dois professores queridos nascera no mesmo dia.
-Qual é o nome dela?
-Tita!
-Tita de algum nome em especial? – Adolfo perguntou – Porque a Tita é Renata, né?
-Tita de Tita mesmo. – respondeu Aline
Chorei de alegria. Nunca imaginei que a prof Daniela ainda se lembrava de mim e me considerava a ponto de colocar em sua filha meu nome.
-A Tita tem moral. – brincou Adolfo – Acho que nenhuma professora colocaria o nome do seu filho de Adolfo, a menos que quisesse que ele fosse uma desgraça como eu.
-Para, Adolfo. Você não é uma desgraça.
-Queria ter tido aula com essa prof Daniela. A Naná faz qualquer um odiar análise sintática. Só de pensar em sujeito, predicado e objeto direto, tenho calafrios.
Ali naquela instituição, professores não se misturavam aos alunos, mas Cássia tinha entrada VIP na sala dos mestres, até porque seu namorado era filho do professor de matemática, então nos concursos de beleza ela sempre vencia e mesmo sendo péssima aluna, sempre conseguia passar de ano enquanto os outros ralavam para não reprovar. Ela conseguia ser mais insuportável que aquelas cheerleaders de filmes adolescentes americanos. Eu era, se assim posso dizer, aquela esquisitinha que até os renegados excluíam.
Cássia e seus amigos tiravam sarro ao ver Adolfo e eu caminhando de mãos dadas pelo pátio.
-Ora se não são o gordinho e a esquisitinha.
-Não enche o saco, sua idiota. – Adolfo me defendia
-Eu encho o saco de quem eu quiser. – o empurrava – Trata de emagrecer, gordinho.
-Não tem outra pessoa pra atazanar, não? Se diz tão adulta, mas chega a ser pior que as criancinhas do primário. – Aline, pela primeira vez, retrucou Cássia
-Muito melhor que segurar vela. – deu um muxoxo - Vocês se merecem mesmo.
O gordinho e a esquisita. O par perfeito. Se eu me importava? Nem um pouco. Para quem iniciou o ano sem perspectivas de nem mesmo ter com quem andar, terminar com uma melhor amiga e o namorado pré-adolescente mais fofo do mundo era lucro.
FIM DA 2a TEMPORADA!
Nenhum comentário:
Postar um comentário