Foi a melhor sensação da minha vida. Amando aos 11. Um pouco precoce, mas quem poderia assegurar que o amor iria acontecer conosco ainda na pré-adolescência. Aconteceu e não pudemos fugir, apenas aceitar, o que não foi nada mau.
Aline tinha razão. Eu aprendi a beijar quando permiti que Adolfo se aproximasse. Não tinha muito segredo.
-Que lindinho! – Aline aplaudiu
Sorrimos e nos abraçamos.
-E esse Adolfo bobo achando que ia levar um fora.
-Não mesmo.
-Tita, você aceita ser minha namorada?
Namorada? Mas assim, depressa?
-Não precisa me responder agora se não quiser. Posso te dar um tempinho pra pensar. O que acha?
-Não faça nada se não tiver vontade. – Aline se sentou ao nosso lado
-Ta tudo acontecendo tão rápido que estou assustada.
-Normal, amiga. Quando isso aconteceu, também me assustei, mas depois acostuma. Você vai ver que não tem nada a temer.
Mesmo assim, quando voltei para casa, minha mãe deve ter desconfiado da minha notável alegria e mesmo não havendo pretextos para implicar, encontrou o mais ridículo de todos só para desfazer meu sorriso.
-Não gosto dessas companhias que você anda, Tita.
-Vai começar com isso de novo, mãe? Quer o que? Que eu ande com as meninas que só me humilham e maltratam?
-Eu não gosto daquele gordinho.
Desatei em lágrimas. Ela, me arrostando, circulava a minha volta na sala. Só faltava tirar o chicote da jaqueta e me arrastar para o banheiro. Protestei histericamente.
-Você nunca gosta de ninguém.
-Dele eu não gosto mesmo.
-Até hoje eu nunca vi você dizer que gostasse de ninguém.
-É bom que não me contrarie se não quiser apanhar.
Fui para meu quarto e abraçando o travesseiro podia sentir toda a alegria que percorria minhas veias, o amor que me fazia suportar aquela cadela que se dizia mãe, mas não era nem de longe como a própria D. Sônia, D. Nice. Ela era um monstro e eu, aos 11, se fugisse teria de voltar. Ao meu pai não podia recorrer. Sozinha não mais estava. O amor era meu melhor amigo, literalmente.
Nos dias seguintes ainda continuamos apenas como amigos porque ambos não sentíamos coragem de nos beijar novamente. Nem amigos estávamos sendo. Não era mais possível.
Positivamente, seria uma legítima adolescente e poderia continuar encontrando sentido nas canções de amor. Negativamente, minha mãe poderia descobrir e aí só mesmo vivendo para saber o que ela aprontaria em seguida.
O silêncio perturbava Aline. Ela era queria um veredicto final, uma certeza e o medo de mim tomava conta. Não era do amor em si, mas de tudo que implicava lutar por ele. Eu só tinha 11 anos e para o mundo não passava de outra criança que deveria estar brincando e não namorando um menino, apesar de que Aline namorava e ainda brincava de boneca comigo de vez em quando. Na verdade não bem brincávamos. Admirávamos as barbies, penteávamos seus cabelos e preferíamos ligar o rádio, conversar sobre a escola, os vizinhos, as pessoas.
Aline não falava mal de ninguém, não tinha inimigos e detestava intrigas. Dentro do colégio era apenas a tábua sem graça humilhada pela Cássia. Estar ao nosso lado sujou a reputação de Aline. Fora da escola, Aline era uma pré-adolescente alegre, divertida, enturmada e fazia sim sucesso com os meninos, tanto que já estava de rolo com o Bráulio, um novo vizinho até que bonitinho e gente boa.
-Tita, se você quer namorar, não tenha medo de dizer sim. O Adolfo ta confuso também e acha às vezes que você não gosta dele.
-Mas gosto... Só não sei muito demonstrar...
-Demonstra do seu jeito, mas mostra algum interesse. Não entenda isso como uma pressão porque não é a intenção. É que esse silêncio entre vocês me machuca e eu to achando que não devia ter falado, ajudado. Me sinto mal.
-Não tem que se sentir mal.
-Então me promete que vocês vão conversar direitinho amanhã?
-Prometo.
Eu ainda conseguia frequentar a casa de Aline com a desculpa de fazer os trabalhos de escola, o que às vezes acontecia mesmo. Sem Aline eu estaria mais desolada ainda.
Era hora de crescer e assumir responsabilidades. Temores anulariam minhas chances de felicidade. Se Adolfo também queria, por que continuar de lero-lero?
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