Riso nervoso. Borboletas no estômago. Angústia. Alegria.
-Ele só fala de você o dia todo, Tita.
-Fala?
-Você é muito boba. Não percebeu que ele é afim de você desde a época da praia?
-Na praia ele só tirava sarro de mim. Não ta lembrada?
-Tita, o mecanismo dos garotos é outro. Ele ta assustado, confuso. Ele nem tem esperanças de ter nada com você porque acha que você não gosta dele.
-Eu não sei... Eu penso nele o tempo todo, sinto umas coisas estranhas quando o vejo e to com saudade... Pronto! – admiti querendo sumir de vergonha
-É a primeira vez que sente isso por um menino?
-É...
-Ele também nunca beijou ninguém.
-Eu não vou saber o que fazer.
-Na hora vai.
-Que hora?
-Vocês vão se falar assim que as férias acabarem.
Que beleza! Faltavam 2 dias para as aulas retornarem. Na véspera eu nem dormi. Não teria moral para falar com ele, caso Aline espalhasse o que conversamos.
Nos cumprimentamos normalmente, conversamos sobre as férias, volta as aulas e Aline, no intervalo, começou a dar indiretas.
-Tita tem algo a dizer a você.
-Não tenho não.
-Tem sim, Tita.
-Aline... – retruquei
-O Adolfo também tem uma coisa a dizer.
-Essa Aline... – Adolfo estava constrangido
Não existia nada além de amizade e ela acabaria ali naquele intervalo.
-To indo comprar lanche. Conversem. – Aline nos deixou a sós
Parece ter se correspondido com Adolfo por olhares. Eu estava toda torpor, ainda mais que quando começou a tocar Too much, só consegui visualizar na memória o dia em que nos conhecemos e aquela música ainda não fazia um pingo de sentido pra mim, a não ser para aporrinhar o gordinho sensível.
-Você tinha algo a dizer, Tita?
-Bem, coisas da Aline... – tentei demonstrar naturalidade
-Eu tenho uma coisa a dizer.
-Boa ou ruim? – enrolei uma mecha do cabelo por entre os dedos e sorri, justo porque ele adorava meu sorriso e eu tinha motivos, aliás, era a principal deles
-Depende de você.
-Não me diga que você vai sair do colégio?
-Não vou te abandonar. Você é minha preferida.
Preferida era superior a melhor amiga?
-Você é meu preferido.
Balançou a cabeça negativamente. Ficava lindo usando o boné com a aba virada para trás, bem estilo skatista, auge em 99.
-Eu sei que sou só seu amigo, mas... olha a enrascada que a Aline me colocou... ela quer que eu me declare pra você e acabe com essa angústia.
-É porque você não gosta de mim, né?
-Eu sei que você não gosta.
-Eu nunca disse que não gosto.
-Eu só penso em você, Tita. Eu gosto tanto e não sei como lidar com isso. É a primeira vez que sinto isso.
-Pra mim isso tudo também é novo.
-Você ficaria comigo?
Roubei um selinho. Era tudo que podia lhe oferecer.
-Não quero só um selinho, Tita. Selinho eu coloco em carta.
Aproximando-se de meu corpo, tirava as mechas de cabelo do meu rosto e sorria, fazia gracinhas, talvez porque queria aparentar ser experiente. O melhor eu experimentei aos fechar os olhos.
Que bom seria se os pré adolescentes de hoje tivessem essa ingenuidade *__*
ResponderExcluirConcordo com vc. *__*
ResponderExcluir