Involuntário foi o arrepio. Meu coração começou a acelerar quando ele colocou seus bracinhos em volta da cintura de tábua. Foi engraçado não esboçar nenhuma reação, nem mesmo gritar, o chamar de mala. Ele era mesmo um mala ou eu ainda insistia em afugentá-lo agindo como uma idiota?
-Você também é meu melhor amigo... – confessei
Aline, correndo, chegou ao nosso encontro. Temeu estragar o clima.
-Tita, Tita. Tua mãe ta feito uma louca te procurando...
Louca ela já era. Só estava à solta e sem diagnóstico.
Ao me soltar dos braços dele, senti vontade de chorar. Ele parecia desapontado também. Aline não era boba.
Fui surrada ao voltar para casa e chorei, porém uma estranha alegria de mim tomou conta pela primeira vez: alguém no mundo realmente me entendia. Um garoto. Adolfo, o sem noção que escutava Spice Girls com os olhos fechados e era chamado de bicha gorda pelos amiguinhos idiotas da Cássia.
Depois daquele abraço que fez meu coração disparar pela primeira vez, tudo que conseguia pensar era em Adolfo. Ele não era feio. Podia sim ser gordinho, mas por incrível que pareça, eu o amava assim. Amava. Amor. Assustei-me.
No outro dia ao acordar, senti um friozinho engraçado na barriga, o mesmo que costumava ter quando algo muito importante ia acontecer. Piorou ao chegar ao colégio e mais ainda quando Adolfo me cumprimentou. Antes era tudo tão automático, tão fácil...
E se ele não me visse desse jeito?
E se ele fizesse isso com suas outras amigas?
Apesar de que a única amiga dele além de mim era Aline e eles conversavam ao telefone. Ninguém me telefonava porque minha mãe reclamava demais e começava a achar que todos estavam conspirando contra ela.
Vários dias se passaram e em cada um eu ia descobrindo o quanto já não era mais a mesma de semanas antes. As músicas românticas passaram a fazer todo sentido no meu mundo, mas não conseguia verbalizar isso com ninguém. Aline compreenderia. Isso era tão normal pra ela.
Quando chegaram as férias de julho, tristeza. Adolfo viajou pra SC ver a neve em São Joaquim e Aline foi visitar a mãe. 3 semanas sozinha. Com mamãe eu jamais poderia conversar sobre amor, paixão, primeiro beijo. As revistas me aconselhavam.
Eu poderia muito bem estar confundindo tudo. Poderia. Adolfo era uma garoto e jamais iria abrir os dentes e falar de paixonites comigo, segundo ele, sua melhor amiga.
Por mais que continuasse sendo zoada massivamente, pensar em Adolfo era como passar um bálsamo em todas aquelas lembranças ruins do primário, das surras de minha mãe, da raiva que sentia. Eu amava estar de férias, no entanto, meu coração estava a muitos quilômetros de casa, possivelmente com um garoto que talvez nunca viesse a conhecer meus sentimentos.
Quando Aline me telefonou avisando que voltou de viagem, fui visita-la e enquanto comíamos pinhão assistindo desenhos, desabafei que mal via a hora em que as aulas voltassem. Ela riu.
-Adolfo está metido nisso.
-Não ta.
-Tita, claro que ta. Você ficou vermelha.
-Fiquei?
-Você o ama.
-Claro que não!
-Para de brincadeira, né, Tita... Você ta falando muito do Adolfo. Já é a 5ª vez hoje que você pergunta dele ou o menciona. Fala pra mim.
-Não sei... acho que to confundindo tudo.
-Acho que você ta dificultando tudo.
-Como assim?
-Adolfo te ama, Tita.
Os dois combinam *_____*
ResponderExcluirE é verdade... *_____*
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