13 de fevereiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 24 - Reviravolta!


-É verdade, mãe? – até saltitei e abracei sua cintura, sendo instantaneamente repelida

-Nem sonhe com isso. – minha mãe deu um tapa na minha direção

-E aquilo que você disse lá dentro?

-Não me diga que você acreditou? – ironicamente sorriu – Acreditou, não foi?


-E seria errado acreditar?

-Você só sai de lá quando eu quiser e nesse momento eu considero que isso é melhor pra você.

-Mas eu não sou feliz lá.

-Trate de ser.

-Já tentei, mãe.  Me deixa voltar, por favor.

-Criança não tem querer. Eu dito as ordens e você tem que obedecer.

-Aquilo que Aline falou é verdade.

-O que a favelada burra fala eu não acredito.

-Não fala assim da Aline.

-Eu falo como eu quiser de quem eu quiser.

Puxando meu braço com violência, ergueu o banco do passageiro e me chutou com força lá dentro como se eu fosse um bandido entrando em um camburão. Recomposta e ainda com a cabeça latejando, tentei negociar.

-Por que mentiu? – desabei

-Não dirija a palavra comigo senão eu vou perder o pouco de paciência que me restou.

-Só quero saber por que mentiu? O que ganhou com isso?

E eu não preciso nem detalhar o terror daquela noite. O subentendido já basta. Creio.

Na segunda-feira, ao chegar a minha sala, encontrei Aline alegremente conversando com Cássia e achei estranho a megerinha me chamar pelo nome:

-Oi Tita! Pensei que tivesse saído do colégio.

-Falou comigo? – olhei para os cantos

-Senta com a gente hoje. – passou a mão em uma carteira

Realmente precisava sentar. Alerta máximo. Certeira bomba. Aline estava sorrindo, Cássia também e eu não assimilava perfeitamente nada do que ouvia. A visão estava turva e controlar a tontura era uma constante. 1ª rodada.

– Não sabia dessas coisas sobre você...

-Que coisas? – pensei, sem verbalizar

Aline deveria ser escritora. Ela criou um mito a meu respeito a ponto de Cássia sentir-se ofuscada e tentar me bajular. 2ª rodada.

-Não sabia que já tinha ido à Disney.

-Bem, eu fui no ano passado. – embromei para não prejudicar Aline

-E ela foi mesmo. Vai de novo quando completar 15 e a mãe dela disse que nós vamos juntas, até o Adolfo. – Aline assegurou com uma invejável convicção

-Eca, não fala com ele não.

-Por quê? – perguntei, ofendida

-Adolfo é um fracassado. Andar com ele queima filme, sem contar que ele é gordo, cdf, chato... Aff, um mala. Sem comentários, né? – ela e as amiguinhas riram

Eu podia sim pensar certas coisas acerca de Adolfo, mas não podia permitir que Cássia o humilhasse daquela forma.

-Adolfo é legal.

-Então você gosta dele.

-Tita já tem namorado.

Aline estava indo longe demais com tantas mentiras.

-Nossa, nem parece. Sempre te achei tão desajeitadinha, bobinha. Não me leve a mal.

-Sou discreta. Nada no colégio. Não confundo as coisas.

Inventar era errado, mas foi rendoso. Aline que o diga: conquistou o quartel das patricinhas e me arrastou junto com ela. Os papos eram chatos, meio narcisistas, no entanto, era bem melhor que ser chacoteada a aula toda.

Adolfo, isolado no seu lugar de sempre, continuava levando sua vida infernal. Ele me culpava pela fuga frustrada e eu o detestava por ser um sequelado. Estávamos empatados.

Na aula de Ed. Física, enquanto Cássia e suas amigas ficavam com os meninos na moita, Adolfo me puxou pelo braço.

-Virou a casaca, Tita?

-Do que você ta falando?

-Sempre detestou a Cássia e agora ta de papinho com ela.

-Coisas da Aline. – disfarcei

Era estranho detestar a Cássia e ao mesmo tempo pensar que justamente após a fuga, enfim a paz retornaria. De forma sinistra e nem por isso inválida. Eu estava feliz. Pensando bem, até que o colégio era legal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário