17 de janeiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 5 - Do luxo ao lixo...


-Por que inventou isso? Ficou louca? – berrava minha mãe, me empurrando para dentro de casa

-Seria bem pior que dizer que não viajei. - ao menos fui um pouco sincera

Levei uma forte bofetada no rosto e fui surrada nua debaixo do chuveiro quente. Naquele dia, pela primeira vez, desejei com força que um caminhão esmagasse mamãe. Era horrível assumir que a odiava com todas as minhas forças, assim como passei a odiar meu pai desde que ele se casou com aquela vaca imunda da Helena.

Ainda bem que ela jamais descobriu meu diário imaginário onde eu contava a vida como queria que fosse. E nunca foi. Talvez nunca chegasse a ser.

De celebridade a piada da escola. Do luxo ao lixo. Perdi toda a moral que tinha, inclusive a confiança das minhas amigas.

-Mentirosa idiota! – Mari Franco virou o rosto pra mim no outro dia

A fileira onde sentava esvaziou-se e todos me evitavam. Trabalhos em grupo tive de fazer sozinha e nos intervalos só chacotas.

A implicância com as meninas da outra sala ainda existiam, mas já nos suportávamos mais, tanto que eu até já conversava com a Rafaela e inventei um boato de que as meninas da minha sala queriam bater nas amigas da Rafa. No intervalo estávamos as 15 garotas na sala da diretora e todas CONTRA mim.

A professora Daniela não se importava com o que diziam de mim por aí e continuou me tratando do mesmo modo, tanto que chorei muito nos ombros dela quando me vi completamente sozinha novamente, tão igual ou pior que no primário.

-Você não precisava ter mentido, Tita. Não é mentindo que se conquista amigos.

-Eu sei, mas se contasse a verdade, aí é que ninguém iria querer se aproximar.

-O problema é das pessoas. Nem sempre as pessoas especiais são aceitas com facilidade, se é que o são.

-E quem disse que eu sou especial?

-É sim.

-Quem me dera...

-Você é especial, mas ainda não se deu conta disso. Você não precisa agir como uma idiota pra que gostem de você. Quem tiver de gostar, vai gostar de você exatamente como é.

Prof Daniela foi a primeira e talvez única pessoa no mundo com quem conseguia desabafar e amar como a uma mãe, até porque ela teria idade o suficiente para ter uma filha de 10 anos.

-Eu sei. No primário também pegavam no meu pé. Entendo como é difícil, mas pior que isso é se tornar igual a essas pessoas que nos fizeram mal. Isso é muito pior. Mata a pureza.

-Você acha que um dia isso vai passar?

-Tudo nessa vida passa. Tanto os momentos ruins quanto bons acabam passando. A vida passa e o melhor que a gente faz é vive-la como tiver de ser.

Tínhamos nossos segredos. Nos encontrávamos na minha sala e lanchávamos juntas nessa época. Quando eu chorava, ela me pegava no colo e me telefonava sempre fingindo ser mãe de uma amiguinha minha, assim a chata da minha mãe invocava menos, mas sempre queria saber por que ela ligava tanto.

-Porque ela é minha amiga. – respondia durante o jantar

-Mas eu não gosto que ela ligue pra cá.

-Se depender de você, eu não vou ter nenhum amigo na vida. Você nunca gosta de ninguém, todo mundo tem defeito, não presta, é chato, é isso, aquilo...

-Mas eu vou lá na escola a qualquer dia desses pra saber o que você anda fazendo. Uma queixa e eu te surro até morrer.

Ela sempre vinha com essas ameaças. A prof Daniela ficava bastante chocada, mas me jurava que ao que dependesse dela, eu estava livre da surra.

Resolvi me focar nos estudos até a poeira baixar. As notas aumentaram consideravelmente e até o prof Vando parou de me aporrinhar.

-Não precisava ter mentido. Eu passei as férias em Curitiba.

-Me perdoa?

-Desde que não vá na onda desses que ficam mentindo por aí. Mentir nunca é lucrativo.

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