As outras meninas eram muito legais, embora não substituíssem a Fran. Ao menos eu ainda tinha a professora Daniela.
A rivalidade com as patricinhas da outra classe continuava e nós passamos a disputar quem se sentaria na escadinha que ficava perto da biblioteca. Um dia rolou uma discussão seguida de uns empurrões e todas nós fomos parar na sala da orientadora e a medida que falávamos, menos a mulher entendia o que `15 garotas lindas e inteligentes estavam fazendo em seu gabinete`, mas advertiu que se nos flagrasse brigando, ira telefonar para nossos pais. Oh, não!
A rivalidade com as patricinhas da outra classe continuava e nós passamos a disputar quem se sentaria na escadinha que ficava perto da biblioteca. Um dia rolou uma discussão seguida de uns empurrões e todas nós fomos parar na sala da orientadora e a medida que falávamos, menos a mulher entendia o que `15 garotas lindas e inteligentes estavam fazendo em seu gabinete`, mas advertiu que se nos flagrasse brigando, ira telefonar para nossos pais. Oh, não!
Mesmo assim continuávamos às turras sem que a orientadora nos visse. Recadinhos pra lá, recadinhos pra cá. Bagunça total na classe, professores loucos, se bem que doidos eles já eram de natureza.
Os meninos não sabiam falar de outra coisa que não fosse o programa das `gostosonas` que estava bombando na TV. As meninas estavam todas vidradas no Jack Dawson e eu fiquei meio de fora porque minha mãe não me deixou assistir ao Titanic. Foi meio esquisito, pois as meninas e eu combinamos de assistirmos ao filme no feriado. As bilheterias estariam lotadas, então sairíamos bem cedinho.
Me arrumei com borboletas no estômago e sentei-me no sofá apenas esperando a mãe de minha amiguinha vir me buscar. Percebi que esqueci minha carteirinha e fui buscar. Quando voltei para a sala, percebi que minha mãe estava lá fora se despedindo da mãe da Mari.
-Tita, infelizmente não poderá ir ao cinema. Fica pra outro dia.
Quando ela entrou, eu ainda estava em estado de choque.
-Por que fez isso, mãe?Eu marquei com as meninas de ir ver o filme.
Avançando em minha direção, agarrou com as duas mãos em meu pescoço.
-Mãe, para. Eu não to conseguindo respirar.
-Você não vai ver filme nenhum.
-Mas eu queria ver...
-Eu já disse que não.
-Por quê?
Esbofeteou meu rosto seguidas vezes, rasgou meu vestido rosa chá floreado, me chutou no chão e me espancou até que eu desmaiasse. Eu me lembro até hoje daquelas chicotadas que deixaram minhas costas em carne viva o feriado inteiro. Até hoje não compreendo por que ela me bateu só por querer ver um filme. Desculpas jamais pediu e, aliás, demorei semanas para conseguir olhar em seus olhos.
Foi foda na segunda-feira ver as meninas suspirando pelo Di Caprio, contando todos os detalhes do filme, marcando de ver outra vez e eu tendo que mentir que tive febre, usando casacos mesmo com as costas machucadas e com uma tristeza que nem mil coelhinhos de chocolate curariam.
Em compensação, adorava Hanson e Spice Girls, tanto que meus cadernos eram enfeitados com adesivos daquele pirulito cujo gosto me lembro até hoje. Essas pequenas coincidências nos aproximavam das meninas mais velhas, embora elas nos ignorassem por sermos `fedelhas` demais.
Por ter sido amiga da Fran, o João e seus amigos nunca me zoaram e eu até era a mascotinha da classe dele. Aliás, eu era a mais nova da minha turma também.
Andava com a Mariana Franco, a Mariana Oliveira (repetente) e a Juliana. A Mari Franco tinha um irmão na nossa sala, o Leonardo, que na verdade deveria estar se formando na oitava série. Cheguei a dormir na casa dela algumas vezes, normalmente para fazer trabalhos, embora a lição de casa fosse apenas uma desculpa para satisfazer minha mãe.
O pai da Mariana trabalhava num jornal e chegava muito tarde em casa, mas segundo minha amiga, o salário compensava o sacrifício. A mãe da Mari e do Leo era boa em cozinha e fazia cada quitute mais delicioso que o outro, tanto que todas as vezes que fui lá, comi muito bem. Ela me achava a gênia por tirar notas boas e vivia me comparando com a Mari, dizendo:
-Por que não segue o exemplo da Tita e vira estudiosa também?
-Ai mãe, não enche o saco. - Mari, comendo bolacha na mesa, retrucava
-Olha o respeito, menina. Quer levar um tapa na boca?
-Ai Tita, fala pra minha mãe que o importante é passar...
-Mas eu não te vejo pegando num livro, criatura. Chega em casa e vai correndo ver tv, depois rádio e só de fofoca no telefone. Não é isso que compreendo como estudo...
A Mari era preguiçosa e ainda sentia muita falta do outro colégio, dos amigos e estava indo muito mal nos estudos. Ela, ao contrário de mim, não via a hora de arrumar um namorado e só pensava em meninos o dia todo. Eu não estava nem aí pro sexo oposto, queria mais é brincar, curtir.
Embora a Mariana fosse um pouco `precoce`, os momentos mais divertidos da minha infância eu passei brincando com ela na rua de jogar vôlei, esconde-esconde. Minha mãe enchia muito o saco por eu sempre inventar pretextos pra pousar na casa da Mari:
-Você pode muito bem fazer o trabalho sozinha.
-Não posso não. O professor quer que seja em dupla.
-Você está indo demais na casa dessa menina.
E eu, por medo de apanhar como daquela vez, não respondia nada, mas sempre conseguia o que queria.
A Mari Oliveira era filha de uma dona de papelaria e graças as suas gentilezas é que pela primeira vez tive acesso a uma caneta de gel e de presente recebi várias, dessas que custavam um olho da cara. Ela tinha uma relação problemática com o padrasto e não conhecia o pai.
A Juliana era mais zen e sempre tentava apaziguar tudo, encontrar solução pro que estava perdido. Eu, por minha vez, pouco falava sobre mim e quando fazia, por mais que fosse errado, eu mentia. Mentia muito, muito mesmo. Pensava que se fosse sincera, iriam se afastar de mim e tudo voltaria a ser como no primário.
Quando chegou a época da copa da França, nós alunos fomos muito beneficiados pelos jogos do Brasil, pois quando havia partida da seleção brasileira nós não tínhamos aula e vez ou outra a gente sempre dava um jeito de ver os outros jogos, só pra farrear mesmo.
Toda vez que lembro daquele 12 de julho de 1998, sinto vontade de chorar. Eu estava tão certa de que o Brasil ia ganhar a copa...
Naquelas férias, apesar de ter feito muito frio, senti muita vontade de viajar pelo mundo, mas como sempre, minha mãe não queria sair da cidade e achava que tinha o poder de decidir por mim como se eu pensasse exatamente como ela. Torci tanto pra nevar, pra mamys mudar de ideia e irmos pelo menos até Araucária ou até um pouco mais longe, São Joaquim-SC. Nada aconteceu.
Passei todos os dias em frente ao televisor vendo desenhos, novelas e telejornais, porém, num caderno dado pela Mari Olveira, resolvi escrever um diário de viagem e deixei minha imaginação rolar solta. Isso fez com que eu me distraísse um pouco.
Quando nossas aulas voltaram, todos tinham alguma novidade. A Juliana ganhou um cachorro poodle da madrinha, a Mari Oliveira recebeu uma prima em casa, a Mari Franco e o irmão foram ao Beto Carrero e eu, para não ficar por baixo, fiz uma mentira tornar-se de verdade:
-Acreditam que fui a Disneylândia?
-Sério? - os olhos arregalados da Juliana deveriam ter sido fotografados
-Que sorte, guria!-bajulou a Mari Oliveira
Inventei com tanta convicção que todo mundo da minha sala acreditou, até os professores.
-E as fotos?Quando é que você vai trazer as fotos pra gente ver? - indagou o professor Vando
-Os negativos queimaram. Não é uma pena? - respondi
Tornei-me a celebridade da escola e até autógrafos cheguei a dar. Todos vinham me perguntar como era a Disney e eu, fantasiosa que só, os deixei impressionados, iludidos, completamente encantados. A Mari Franco se sentiu ofuscada, coitada.
Como diz um velho ditado: `A mentira tem perna curta`, eis que quando minha mãe vai apanhar meu boletim, o professor Vando a aborda para questioná-la sobre a viagem...
-Não teve viagem nenhuma. Possivelmente a Renata inventou isso tudo.
Eta , que mãe!
ResponderExcluirIsso que vc não chegou na 2a temporada. Aí vc vai ver do que essa Meire é capaz...
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