Estava escrevendo uma carta para Julia quando papai e Helena entrarem em meu quarto. Cuidadoso, Felix mal queria sentar-se em minha cama para não amassar a colcha. Helena igualmente.
-Bem que Meire disse que você não para de estudar um só minuto... – ria Felix – Se não estivermos incomodando...
-Isso nunca, pai. De forma alguma.
-Felix e eu temos algo a lhe contar. Tenho certeza de que é uma notícia da qual você vai gostar muito.
Sempre que me diziam isso eu acabava odiando a informação. Desde que me entendo por gente foi assim.
-Você prometeu que falaria, Helena. – cochichou Felix
-Mas você prometeu me ajudar. – protestou sem ser rude
-A notícia é a mesma, tanto faz quem conte. – resumi – Estou ou não certa?
-Pronta para ter um irmãozinho ou uma irmãzinha? – Helena sorria
Imobilidade. Um certeiro golpe no meu estômago já dilacerado pelas tantas borboletas bailando. Eu ouvi palavras por demais ou meu pai teria mesmo outro filho?
-Isso não é uma maravilha, Tita? –Helena se emocionava ao mencionar a gestação de pouco mais de 5 meses
-Prefere menino ou menina?
Sinceramente, ser filha única era o único atributo que me diferenciava dos demais. Era um lance controverso a adolescente de 15 anos que já tinha namorado sentir ciúme do novo filho do pai, mas senti. Odiei aquele bebê idiota por saber que era fruto de um amor e eu não. O invejei por ter Helena como mãe, porque jamais seria filho de Meire e não passaria por nem um terço do que vivi.
-Não gostou da notícia? – paparicava papai
Meu sorriso amarelo poupava descrições, segurando as lágrimas até que a porta do recinto fosse fechada e ninguém me interrompesse mais. Não para me dar noticias ruins. Não para me fazer reviver a rejeição mais uma vez. Não. Eu queria acreditar que não ouvi nada, que estava dormindo e nada mais.
No outro dia, quando cheguei ao colégio, chorando muito fui abraçar o Gui. Agora que tinha um namorado, sabia que poderia dividir com ele minhas alegrias e tristezas, bem como diziam as canções de amor, mesmo que na prática não seja exatamente assim.
Guilherme, definitivamente, não entendia nem um pouco o que se passava em minha mente, tampouco se esforçava pra isso. Não que tivesse dever, mas já que gritava aos sete ventos que me amava, que eu era aquela que o tirou da escuridão, podia pelo menos ter um pouco de paciência comigo, afinal era um momento delicado da minha vida.
Julia deve ter caído na real que continuar fingindo seria inútil e na sexta-feira de Carnaval eles chegaram juntinhos ao colégio, trocando apelidinhos carinhosos e beijos pra lá de apaixonados. Se pra eles o clima era de amor, pra mim era de completa revolta.
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