12 de abril de 2012

Simplesmente Tita - Cap 56 - Sermões! (4ª TEMPORADA)



Nunca gostei muito de mudanças. Nunca pude tomar uma decisão sozinha. Ali estava eu em frente a um novo colégio. A fachada era bonita, recém-pintada com tons de alaranjado e salmão, modernizando um pouco a tradicional arquitetura. Lá, segundo fontes confiáveis, estudaram grandes personalidades do estado.

Ao ver os jovens se encontrando e conversando, percebi o quanto me sentia infeliz. Estava jogando minha vida no lixo e tinha plena certeza disso.


Não desejava ser popular nem despertar o desejo do menino mais bonito do colégio. Eu só queria poder entrar na sala de aula sem medo de ser maltratada, discriminada, menosprezada. Queria poder ter alguns amigos sinceros que gostassem de mim independentemente das notas que eu tirasse. Parecia um pedido impossível aos céus ou pelo menos era o que eu costumava acreditar.

Antes de mesmo de entrar na classe, me impressionei com a diversidade do colégio. Todos podiam ser o que queriam. Manos, patricinhas, mealheiros, pagodeiros. Ninguém, até aquele instante, seria chamado de homossexual sem provas, como acontecia comigo na antiga escola. Se pudesse me sentar e ter um dia comum, nada mais exigiria da vida.

Assim que tocou o sinal, ressoou uma voz feminina pelas caixas de som espalhadas por toda a instituição e de péssima qualidade, ressaltando. Tratava-se da senhora Raimunda Mascarenhas, a diretora. Mulher de trejeitos bizarros, voz de taquara rachada, bastante rigorosa quanto a que se diz respeito às temidas normas lidas em voz alta após cantarmos o Hino Nacional.

-É terminantemente proibido namorar nas dependências do colégio. – pigarreou como se estivesse apavorando estudantes do pré-escolar

Raimunda recebeu uma chuva de vaias.

-ESCUTEM AQUI! ONDE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO? NA FESTA DO CAQUI? NÃO, SENHORES. AQUI É UMA INSTITUIÇÃO DE RENOME E RESPEITO, PORTANTO AS NORMAS DEVERÃO SER OBEDECIDAS COM TODO RIGOR DA LEI. – ninguém conseguia parar de troçar – ORDEM! EU EXIJO RESPEITO E ORDEM! – era impossível não rir - MAL O ANO COMEÇOU E OS ESTUDANTES JÁ ESTÃO FAZENDO BADERNA. – berrava para conter o riso coletivo, inclusive meu

Não precisei sequer colocar os pés na sala para ter uma noção dos meus colegas. O roqueiro cabeludo e seu grupinho faziam piada de tudo e todos enquanto a CDF com cara de ter uns 12 anos de idade os criticava. A veterana se achava a maioral debochando da diretora, dando 10 muxoxos por segundo.

Pelo menos a primeira aula foi de Português, com o professor Eduardo Gutierrez, um quarentão muito simpático, de dicção perfeita. O tipo de mestre que adora seu trabalho e transmite o prazer aos estudantes, embora 90% da turma não estivesse nem aí para o que ministrasse durante os 50 minutos de aula.

Alto, atlético, belo, atencioso. Olhos azuis, cabelos castanho – claros e sem aliança. Seria aquele típico docente por quem qualquer garota dali apaixonar-se-ia deliberadamente.

Por tratar-se de um primeiro dia, as aulas duraram até o intervalo. Não cheguei a conversar com ninguém, até porque a sala não estava totalmente cheia. Chegou a hora de enfrentar o passado: rever meu pai após quatro anos.

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