O relógio biológico me acusava. 15 anos completos. Nenhuma façanha de que pudesse me orgulhar. Todas as minhas melhores lembranças eram provenientes da minha pré-adolescência e justamente por isso mesmo me preocupava.
2003 augurava uma nova fase, embora nos anos anteriores o mecanismo tenha funcionado da mesma forma. Férias pela janela, materiais escolares e nenhuma novidade relevante o bastante para prolongar parágrafos.
Aquela festa de debutante era uma grande farsa. Qualquer um naquele salão tinha pleno conhecimento. Até meus próprios inimigos. Questão de ‘sorte’ ou não, seria transferida de escola porque nos mudamos de casa novamente, o que salvou um pouco o tédio, apesar de Meire fazer de mim sua mucama particular.
-Se quebrar ou lascar um móvel, além de me ressarcir, vai apanhar. – berrava ela tentando se aparecer para os novos vizinhos
O ano letivo começaria em questão de dias e o único passeio que fiz foi para levar meu histórico escolar até o novo colégio. E só.
Minha avó materna foi passar as férias em São Paulo e acabou adoecendo. Com isso, Meire teria de viajar para tomar conta dela. Pensei que a acompanharia, ainda mais por tratar-se de um momento delicado na família, porém, rispidamente, Meire deu o ultimato.
-Quer começar o ano faltando aula?
-Mas vovó está doente. Eu quero vê-la. - implorei
-Eu já disse que não vai. Quer desafiar minha autoridade? – berrava para me intimidar e já lançava tapas na minha direção
-Mas ela é minha vó.
-Ela nem gosta de você, ainda mais que sabe dos seus podres.
-Das coisas que você pensa que eu faço.
-Penso não. Seus colegas me contam tudo.
-Você deveria saber que Cássia e suas amigas são umas cobras mentirosas.
Meire deve ter estagnado no tempo. Eu já era como dizem, uma moça ‘feita’. No entanto, mamãe continuava me tratando como se eu fosse aquela menininha de cinco anos que ouviria gritos, concordaria com a cabeça e inquestionavelmente a obedeceria.
-Aqui nessa casa a última palavra será SEMPRE minha. Sua única alternativa será me obedecer e sem delongar nada. Estamos entendidas?
E Horácio? Ele poderia tomar conta de mim e da casa...
-Horácio vai viajar a trabalho.
-Então isso quer dizer que eu vou passar alguns dias sozinha em casa? – tentei até mesmo disfarçar o sorriso ingrato
-Nada disso. – debochou Meire - Você vai passar alguns dias na casa do seu pai até eu voltar...
Preciso saber se ouvi direito... Na casa do meu pai?
Eu não falava com Felix havia anos, ou seja, desde aquela vez da praia em que prometeu vir me buscar e não mais retornou.
-Eu já sou adolescente e posso muito bem ficar sozinha em casa. – me impus
-Criança não tem querer!
-Eu já disse que não sou criança.
Era sempre assim!
Meire outorgava o veredicto e ninguém se opunha a sua excessiva autoridade que me soava como uma ditadura. Era. Meire era uma legítima tirana. Manipuladora, impecável retórica e a maioria no congresso, apesar de Horácio ser um borra botas eternamente meio do muro.
Eu precisava mesmo ficar sob a tutela do homem que me ignorou durante boa parte da minha vida? Para Meire a resposta era bastante simples...
A Meire maltrata demais a menina. Impedir de ver a avó... =/
ResponderExcluirChocante ou não, Meire não gosta da filha. =/
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