-Que bom, linda. Vamos dormir todas juntas. – Cássia pulava como se estivesse comemorando verdadeiramente minha presença
O coordenador passou o molho de chaves para Cássia e um guia do hotel nos conduziu até nosso quarto com um beliche, uma cama de solteiro e um leito de casal. Cinco meninas dormiriam ali sem mais qualquer contestação.
Instaladas no aposento, as amigas de Cássia ocuparam todos os leitos e só me sobraria, consequentemente a parte de cima do beliche onde humildemente dormiria até temendo respirar para não dar nenhum motivo para me zombarem.
-Que quarto mais mixuruca. Meu quarto dá de 10 a 0 nessa pocilga. – reclamava Cássia
Cássia atirou-se na cama de casal como se a própria a pertencesse.
-Ninguém se aproxima da cama de casal. Se virem nessas caminhas vagabundas e pronto. Ah, não ronquem e não me agarrem durante a noite. – frisou fitando dentro de meus olhos ainda que eu insistentemente provasse não ser homossexual
-Quem ronca é você. – zoou uma bajuladora da piranha
-Só deixo a Leka dormir na mesma cama que eu. – Leka era uma de suas ‘fãs’ – Mas bem longe de mim, ta? Não suporto que toquem em mim. – Cássia reiterava com arrogância como se fosse uma barbie importada
Estávamos em 5, o que me assegurava o direito a cama de cima. Perversa, Cássia não me deixou sequer me aproximar do beliche para colocar minha mala.
-Eu só não te expulso do quarto porque a droga da coordenação não deixa, então se faz alguma questão de ficar, vai dormir ali no chão. – mostrou com o pé onde eu deveria dormir
-No chão? Com um colchão, né? – não podia crer em tanta maldade
-Você é retardada? – gritou me arrostando como se eu fosse um lixo – To falando que você vai dormir no chão. Ou isso ou cai fora.
-Mas esse chão é gelado. – protestei colocando minha mala em cima do beliche
-Que se foda. Azar o seu. – atirou minha mala contra a porta – E tira suas tralhas daqui, fazendo favor.
-Tem cama pra todo mundo... Por que tanta ruindade, Cássia? – as amigas da megera riam descaradamente da minha aflição
-Parece que você tem um probleminha. – berrou – Eu vou precisar repetir?
-Tem a rede lá fora. – negociei – Posso dormir lá?
-Não... – mesmo com a mala em cima da cama de casal, fez chantagem – Eu to pensando em dormir lá na rede. Não é, meninas?
Todas assentiram com a cabeça e eu, sem nenhuma alternativa, me alojei ao chão e ainda assim sofria com as implicâncias das vadias, se trocando sem nenhum pudor na minha frente.
-Vê se não fica vendo televisão até muito tarde. – debochou uma delas
-Os meninos já trouxeram as bebidas. Hoje vai rolar a putaria lá no quarto do Erick. Espero que tenham trazido camisinha e estejam prontas pra tudo. – comemorava Cássia esfregando freneticamente as mãos e dirigindo o olhar a mim – Lá não aceitam sapatão. Que peninha! – acenou – Estamos indo pra piscina.
Mentirosa. O tempo estava chuvoso e a piscina estava coberta. Só me restava mesmo procurar algo na tv para fazer passar o tempo. O sinal da parabólica era péssimo, não compensava, então precisei urinar e quando cheguei à porta do banheiro, surpresa: estava trancada. Aflita, tentei sair do aposento, porém infelizmente Cássia me trancou do lado de fora. Bati com força na madeira chamando por ajuda e ninguém parecia me ouvir.
-EU PRECISO SAIR DAQUI! ALGUÉM ABRE ESSA PORTA, POR FAVOR!
Berrei por mais de 10 minutos. Ouvi meu próprio eco rebater a parede e nada além disso. O nervosismo e a necessidade acabaram falando mais alto.
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