16 de março de 2012

Simplesmente Tita - Cap 40 - Sem saída! (3ª TEMPORADA)




Meire descobriu o fundo falso do guarda-roupa onde eu guardava meus diários (o de 2000 e os antigos), as cartas de Adolfo, Aline, Maris e Prof.ª Daniela, minhas poesias e historinhas, me resumindo a um lixo.

-Quero que jogue todas essas porcarias fora.

-Não posso, mãe. São minhas lembranças.

-Você não viveu porcaria nenhuma para ter lembranças.

-Por que você é assim, mãe? – chorei e me ajoelhei, sendo chutada

-Eu sou sua mãe e você deve acatar minhas ordens. Não tenho tempo pra dramalhões e motins de menininha mal educada.

-Por favor, mãe. Entenda meu lado pelo menos uma vez...

-Ou você joga essas tralhas fora ou eu mesma o farei. – berrou – ESTÁ OUVINDO?

Não respondi e levei uma cotovelada.

-OUVIU OU PRECISAREI REPETIR? – dirigiu-se até a porta do quarto – Voltarei aqui em meia hora. Se não tiver se desfeito desses cacarecos imundos, eu mesma o farei.

Não o fiz.

-Depois de tudo ainda tem a petulância de me desobedecer? Eu devia ter te abortado. Eu devia ter ouvido a minha mãe.

-E POR QUE NÃO O FEZ? – gritei e ela não sabia o que responder – POR QUE NÃO O FEZ? COM CERTEZA TERIA SIDO MELHOR QUE VIVER DESSE JEITO, COM MEDO, ANGUSTIADA, CANSADA DE VOCÊ, SUAS LOUCURAS, REINAÇÕES, OPRESSÕES E REGRAS RIDÍCULAS. SE NÃO QUERIA TER FILHOS, NÃO TIVESSE TRANSADO, MAS, POR FAVOR, EU NÃO PEDI PRA NASCER. EU NÃO TENHO CULPA SE TUA VIDA NÃO É DO JEITO QUE VOCÊ SONHOU. EU NÃO MEREÇO PAGAR O PREÇO PELOS SEUS FRACASSOS. EU NÃO TIVE CULPA DE NADA.

Meire passou algum tempo paralisada me fitando de cima em baixo.

-Está usando o típico linguajar de uma piranha, vestindo-se como uma a me envergonhando dentro do próprio colégio. Ainda bem que fui eu que flagrei porque se tivesse sido um inspetor, você não voltaria para lá na segunda-feira.

-Todo mundo namora, mãe.

-Aqui nessa casa não. – bradou com ódio

-Todo mundo é normal, pode sair, viver, ter amigos e só eu não. Só porque você não é feliz não lhe dá o direito de destruir os meus sonhos.

Meire, felizmente sem me espancar, saiu do quarto e por algum tempo desistiu da ideia de jogar fora minhas relíquias, mas a partir dali todo cuidado seria pouco. A conhecendo desde que me compreendia por gente, tinha noção de que encasquetaria em me separar de Adolfo e atear fogo em tudo que me trazia alegria e esperança.

-Olha aí a piranha que apanhou de mamãe. – Cássia apontava em direção a porta

-A mamãe flagrou as bitoquinhas do casalzinho e deu porrada. – caçoou uma amiga de Cássia

Refutei as zombarias e me mantive atenta às aulas, mas o fato de a carteira de Adolfo estar vazia era pretexto o suficiente para instalarem-se as agonias.  

Dias se passaram sem qualquer resposta. Semanas. Intermináveis quinzenas sem qualquer esperança de ver ou ao menos ler uma carta de Adolfo, receber um telefonema ou um mísero recado de Aline. Nada. Adolfo realmente desapareceu do mapa e continuava vivo dentro do meu coração, assim como a esperança de que um dia eu o veria entrar por aquela porta e devolver toda jovialidade que com ele partiu.

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