-A otária ficou apavorada com a menstruação. – Cássia estava falando de mim
-Foi nojento, cara. – uma amiga de Cássia ria alto
-Tinha namorado nenhum. Tudo blefe. Mó mentirosa.
-Quem iria querer namorar aquela tábua? – outra amiga de Cássia comentou
Dei meia-volta, mas tinha prova na 1ª aula e não poderia fugir. As provocações voltaram e eu fiquei taxada como a manchadinha da classe. Aline era a tábua.
Fiquei com vergonha só de imaginar o que Adolfo poderia pensar de tudo aquilo. Afinal, o que ele pensava de mim? Será que ouvir tudo aquilo poderia fazê-lo com que me odiasse?
-Quer absorvente, manchadinha? Tenho uns sobrando em casa. – um menino zombou
-Já sabe o que é menstruação? – outro idiota veio me provocar – Procura no dicionário, cdf. – me deu uma sardinha no ouvido
No intervalo, quando fui com Aline até a cantina, levei uma rasteira de alguém cujo rosto nem consegui visualizar. Além de quase ser pisoteada, o que por si só já era suficientemente humilhante, ouvi mais chacotas.
-Aqui não vende tampão, ta? – alguém disse e a galera riu absurdamente
Quando fui ao banheiro, percebi que estava sendo observada por Cássia e suas amigas que além de invadirem minha privacidade, atiraram pacotes de absorvente em mim.
-Pra não manchar as cadeiras, ta? – Cássia ria de forma extremamente macabra
A primeira vez em que realmente matei aula foi nessa ocasião quando passei pelo menos 30 minutos chorando muito. Vergonha, tristeza, desilusão. Diversos sentimentos se misturavam. Crescer implicava suportar tudo com a cabeça erguida e eu não estava conseguindo fazer isso.
Quando voltei para a 5ª aula, enfim a última do dia, Cássia me recebeu com deboche:
-A diretoria devia expulsar a manchadinha por usar o banheiro para fins ilícitos. – ela e as outras meninas riam
-Por que tanta implicância comigo, Cássia? O que eu te fiz? – perguntei, com os olhos ainda vermelhos
-Falou comigo?
-Acho que sim, né? – me aproximei da carteira dela – Não finge que não ouviu. – desabafei – Desde a 1ª série você parece ter alguma coisa contra mim porque está sempre implicando, debochando, humilhando, me ridicularizando perante a turma toda, mas, afinal o que você ganha com isso?
-Ta chorando, coitadinha? Quer colinho? – vaca cínica – Se quer saber, não vou e nunca fui com a sua cara e se eu quiser te humilhar, vou fazer e você não pode com isso. Ouviu, manchadinha?
-Você é perversa, Cássia. Isso não se faz.
-Não? Mas eu faço... – riu sarcasticamente - O que você vai fazer? Vai contar pra diretora? Pois pode ir... Ela é comadre da minha mãe e vai ignorar suas denúncias...
-Por que você não cala a boca, hein, sua putinha? – Adolfo se levantou e empurrou uma carteira na direção de Cássia
-Como é que é gordinho? – um amigo de Cássia interveio
-Isso que você ouviu!
Aline parou na frente de Adolfo. O coração espremia só de pensar em brigas, barracos e discussões.
-Por favor, gente. Não vamos brigar.
-O gordinho gosta da manchadinha. Até que eles fazem um par perfeito.
-Respeita a Tita ou eu arrebento você. – Adolfo, aos gritos, fez-se notar
-Você não sabe com quem ta falando, sua bicha gorda. – o amigo de Cássia o empurrou contra carteiras cheias – Olha os modos se não quiser terminar a manhã no IML.
-Então vem, seu desgraçado. – cerrou os punhos e deu um soco na direção de Erick
-Vem, filho da puta. – Erick socou para acertar Adolfo, que desviou a tempo
-Venho, venho mesmo.
-Se controla, bichinha gorda. Eu posso te arrebentar.
-Comigo eu não me importo que mexam, mas não vou deixar que humilhem a Tita desse jeito.
Nunca havia visto Adolfo tão alterado daquela forma. Aline, desesperada, tentava acalmá-lo puxando de leve o capuz do casaco.
-Deixa eles, Adolfo. Brigar é se rebaixar ao nível deles...
-Não te mete, tábua. Não te mete ou apanha junto. – gritou uma amiga de Cássia
Adolfo e Erick se provocavam feitos dois galos de briga. Cássia gargalhava, pois havia conseguido implantar a discórdia. Aline saiu chorando da classe.
-CONSEGUIU O QUE QUERIA, NÃO É MESMO? – peitei Cássia
-Aqui nesse colégio eu venço sempre, manchadinha.
E então, para minha infelicidade, quando fui socar-lhe o rosto, a prof Naná chegou à sala e flagrou a desagradável cena de briga.
-POSSO SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – gritou a velhota
Sujou. E pro meu lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário