15 de fevereiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 26 - Transformações?


Sem arranca-rabos, mamãe precisou afrouxar as rédeas comigo e me deixou até comprar algumas roupas novas, maquiagens e acessórios diversos.

-Você está crescendo e acho que já ta na hora de se arrumar como uma mocinha, não?

-Vai me deixar usar batom? – perguntei faceira enquanto entrávamos em uma loja


-Sim, mas nada chamativo.

-Eu gosto do vermelho.

-Nem sonhe. Você sabe o que significa batom vermelho.

Mamãe e seus pré-conceitos. Se dependesse dela eu viveria com o uniforme da escola e ela faria sob encomenda o pijama com o emblema da instituição.

 Na cestinha apenas batons cor de boca, brilhos cheirosinhos, perfumes com aromas agradáveis ao rígido olfato materno e quiçá uns acessórios no cabelo. Para Cássia, tudo muito infantil.

-Você ainda parece muito criança.

-Mas eu sou.

-Não se aboba, né, Tita? Você já é uma mocinha, tem namorado e precisa agir de acordo. Aliás, meu aniversário é no sábado e eu quero que você traga seu namorado.

-Tra- trazer me-meu namorado?

-Não seja boba, guria. Vocês não saem juntos?

-Cla-claro que sim, né? – respondi

-Então por que o nervosismo?

-A mãe da Tita é um pouco rígida, se é que me entende. – Aline sempre tinha uma carta na manga

-Mas devia se acostumar. Eu namoro desde os 10.

-A mãe da Tita não sabe que ela namora.

Eu nunca havia sequer dado um mísero selinho em um garoto. Ainda não os via como Aline e Cássia conseguiam. Para mim, todos não passavam de uns idiotas que ficavam correndo atrás de uma bola no intervalo, puxando o cabelo das meninas como eu e bobos pela Cássia. Todos, menos um. Adolfo era o primeiro e único guri com quem conseguia conversar por mais de 2 minutos.

-Não me diga que você tem uma quedinha pelo gordinho?

-Sai pra lá, eu não. – respondi até um pouco ofendida

Cássia faria 13 anos no sábado. Era a primeira festa que eu iria. Mamãe era contrária a me deixar sair, no entanto, inesperadamente me liberou. A pior parte deveria ser essa e naquela ocasião não era.

-Aline, eu vou me ferrar. Ela vai descobrir que eu sou BV.

-A menos que você diga. Ninguém tem como descobrir.

-Que namorado, Aline? Olha a encrenca que você me meteu.

-Eu tenho um amigo que pode se passar por seu namorado.

-Eu não vou ter de beijá-lo, né?

-E se tiver?

-Eu não vou saber o que fazer.

-Primeiro beijo é meio estranho, mas todo mundo passa por isso. Beijar só se aprende beijando.

-Fala isso porque pra você tudo é fácil.

-Nem tudo. Terminei com o Guto. O safado me traiu com a própria prima. Se eu deveria estar mal? Bem, deveria, mas o idiota foi ele... Nessa noite é certeza que eu fico com alguém.

O amigo de Aline furou conosco na última hora. O pai dele, que ia nos dar carona, sumiu. Era arriscado, mas iríamos de ônibus.

40 minutos depois estávamos na festa de Cássia no sobrado onde ela morava. Dois carros do ano na garagem, outros estacionados em frente à casa. Luzes coloridas piscando, música alta, cheiro de cachorro quente misturado ao perfume de Cássia. Não eram nem 20h00min e o local da festa já estava movimentado.

-A guria manda lá no colégio mesmo! – Aline suspirou – Perto dela sou um bebê!

-E eu então?

Cássia estava completando 13 aparentando ter 16. Até os seios desenvolvidos ela já tinha. Aline e eu éramos duas tábuas maquiadas ainda assistindo desenhos animados nas manhãs de sábado e brincando de boneca às escondidas enquanto Cássia namorava e já transava, segundo boatos de corredor. O namorado tinha 17 e não era o primeiro.

Os pais, extremamente liberais, nos receberam e conduziram até o salão de festas no 2º andar onde boa parte da galera já estava reunida. Cássia nos ignorou completamente. Não só ela como suas amigas. As tábuas ficaram isoladas e ofuscadas.

Aline era precoce, mas não chegava a tanto. Gostava de ter seus namoradinhos. No máximo beijos de língua e segurar na mão. Não mais que isso. Transparente, nunca enganou a mãe, um pouco confusa com os dilemas amorosos da filha, porém presente o bastante para aconselhá-la.

-To me sentindo ofuscada, amiga. – chiou brincalhona como sempre

-Me arrependi de vir aqui. – entrei em seu embalo

Caminhamos aos arredores fingindo nos sacudir na pista. Esbarrávamos nos mauricinhos já bêbados e levávamos respostas atravessadas. Por não bebermos nada com álcool, experimentamos um pedaço do bolo de chocolate, mordiscamos alguns docinhos e caímos de boca no refri de cola, calórico demais para Cássia e suas amigas.

Believe – Cher tocou umas 3 vezes. Podíamos não ficar com ninguém, entretanto, mesmo assim, só por estar na festa da Cássia já devia me sentir o máximo porque ao menos se fosse vista entre os populares isso me contava muitos pontos.

-Não fica braba comigo, amiga? – Aline me cutucou

-Ai Aline, que cara é essa? Essa música é tão legal...

-Ta, eu sei... – ela apontou pra uns meninos que estavam rindo de nós

-Então o que foi?

-Melhor a gente sair daqui.

-Deixa a música acabar.

-Não dá pra esperar... –ela me puxou em direção ao banheiro e eu bufei

-Algum problema?

-Já olhou pra sua calça? Ela ta suja!

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