Apresentei Adolfo a Aline e de dupla nos tornamos um trio. Um trio inseparável. Íamos à praia todas as manhãs, voltávamos para almoçar e depois íamos passear novamente, o que nos ajudou a conhecer outras crianças que estavam de férias, com quem brincamos, ouvimos música e trocamos confidência.
Ao fim do verão nossa amizade acabaria, mas eterna seria e abençoada pelos raios de sol que me faziam agradecer a Deus todas as manhãs por estar viva, apesar de eu não ser a católica mais perfeita do mundo.
Helena achava Aline e eu ‘magrinhas demais’. Nós ríamos.
-Como vocês podem ver, odeio dietas e exercícios. Adoro doces, meu Deus! Que culpa eu tenho?
Ríamos mais ainda comendo sorvete com cobertura de chocolate e amendoim salpicado. Verdadeiras viciadas em refrigerante com pipoca. Éramos felizes e muito provavelmente não sabíamos disso.
Aline passou seu aniversário de 12 anos conosco e meu pai, para incentivá-la a estudar, custeou seu material escolar. Fomos a uma papelaria bem famosa no centro da cidade e eu acabei comprando meu material escolar também. Após isso comemoramos com Aline em uma sorveteria com algumas fotos as quais apareci com um chapeuzinho rosa do Garfield, aliás, meus cadernos naquele ano foram todos da coleção do Garfield. Um mais lindo que o outro. Be alone no more – Another Level lembra muito as férias de verão. Quanta saudade!
Vez ou outra minha mãe telefonava. Em momento algum dizia ter saudades ou qualquer sentimento. A voz era sempre a mesma. Ríspida e impassível.
-Ta se comportando?
-To. – eu bufava
-Ta mesmo? Quando chegar, Felix e Helena vão me contar tudo. Se eu souber de algum erro, já sabe...
Isso se eu chegasse, pois já manifestava claramente a meu pai que adoraria morar com ele e Helena. Minha madrasta, com quem estava convivendo havia semanas, era realmente a mãe que eu queria ter. Atenciosa, jovem, divertida, ouvinte, carinhosa, dessas que quando você ta no sofá, ganha cafuné e ela sabe afagar de tal modo que você fecha os olhos e se esquece do resto do mundo.
-Se quiser morar conosco, sabe que terá seu quartinho.
-Mesmo?
-E você vai poder pintar da cor que quiser.
-Bem, eu quero rosa.
-Rosa? Eu posso pintar pra você, colocar um papel de parede e uma cortina bem bonita. O que acha?
-Posso chamar minhas amigas pra ir lá?
-A hora que quiser. Aline, você ta convidada.
-Sugestão anotada, tia. Tita e eu vamos aprontar muito esse ano lá no colégio. Tomara que a gente fique na mesma sala, pelo menos porque a Mari Franco reprovou e a Mari Oliveira mudou de cidade, então vamos ser só nós duas, talvez.
-Que saudades da época de colégio. Eu adorava assinar aqueles cadernos de confidências e depois ler o que todo mundo escreveu. Ô tempo que não volta mais!
Eu já estava tão preparada para morar com meu pai que na volta da viagem nós 4 – sim, a Aline era ótima com palpites – planejávamos como seria meu novo quarto e meu pai já até me ensinava quais ônibus eu apanharia para chegar ao colégio. Mesmo com chuva, uma atípica alegria de mim tomava conta. Tudo estava bem.

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