19 de janeiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 7 - Por muito pouco...


No dia seguinte, logo no primeiro horário a diretora convocou todas as turmas a comparecerem ao anfiteatro. Silêncio, pois o recado que a coordenação do colégio tinha a fazer era de suma importância. Ouvimos duas horas de sermões nos alertando de todos os perigos do vício, que aquilo era um jogo de azar, mas foi o mesmo que não ter dito nada, pois continuamos indo lá sempre que podíamos.

Eu já estava praticamente aprovada em todas as disciplinas, continuava sendo amiga da professora Daniela, tentando descobrir o sobrenome do professor Vando e fingindo que fazia os deveres propostos pelo Emival. Aliás, todos que tínhamos aulas de matemática com o professor Emival saímos sem saber porra nenhuma. Ele mandava fazer os exercícios propostos pelo livro e não foi nada raro vê-lo chegar à sala de aula com papel sulfite pedindo pra gente desenhar. Isso mesmo, desenhar! Em plena aula de matemática.

Aos trancos e barrancos completei diversos álbuns de figurinhas e jogava pela galera, ganhando muitos presentes, tipo doces e bichinhos de pelúcia.  Chorei de emoção quando comprei a última barbie da coleção das Spice Girls. Nem da caixa eu quis tirar. Minha mãe achou estranho eu ter as barbies que tanto pedia e ela se negava a dar.

-De onde isso?

-Ganhei da Prof Daniela.

-Que professora é essa que sai dando presente pra aluno?

-Pros melhores sim.

-Bom que suas notas estejam mesmo altas porque senão...

-Estão.

-Quando chegar o boletim conversaremos.

Mesmo com as notas todas acima de 7, nunca era bom o bastante.

-Podia ter sido um pouco melhor.

-Não sou boa em Educação Física e em Matemática..

-Um bom aluno é bom em tudo.

-Nem sempre.

-Não teime comigo. Sou sua mãe e sei mais da vida do que você.

Confiscou as barbies.

-Amanhã mesmo eu vou à escola conversar com essa professorinha pra saber porque ela fica te dando presentes.

-Por favor, mãe. Não!

-Por que não?Se estiver aprontando eu descubro.

-Não estou.

-E é bom que esteja falando a verdade, senão já sabe...

Ela iria descobrir a farsa dos caça-níqueis, ainda mais com a tv sensacionalizando em cima do assunto nos telejornais. Eu tinha um motivo a mais para temer, tanto que aproveitei a deixa de um trabalho em equipe com as meninas para procurar a prof Daniela no intervalo e pedir pra ela me ajudar.

-Toma cuidado com esse negócio de caça-níquel, Tita. Hoje você pode estar com sorte, mas amanhã mesmo perdendo vai continuar jogando.

-Promete que não conta a minha mãe?

Meus olhinhos desesperados a comoveram.

-Pode contar comigo.

Sexta-feira de Sol. As meninas e eu estávamos planejando fazer um piquenique super gostoso, ainda mais que a prof Daniela me salvou de uma surra e minha mãe, sem graça, me deixou ficar com as barbies no intervalo. Pela 1ª vez estava sendo invejada.

-Elas são lindas!

E, além disso, meu estojo estava cheio de canetas coloridas de gel as quais ninguém poderia chegar perto. Nem a Rafaela que era a patricinha do colégio desfrutava de todos esses luxos. Enfim alguma vantagem sobre ela. Até aquele dia ela era minha pior rival. Somente até aquele dia...

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