Tornou-se febre jogar nas maquinhas de caça-níqueis. Os meninos do 8º ano se viciaram e eu aderi também porque pagava pau pro João, que me zoou por causa da mentira, mas a galera dele me curtia, inclusive as meninas, todas lindas, descoladas, bem como eu queria ser quando chegasse à idade delas.
-Isso aqui não é pra criança. – o João não era favorável a me ver jogando
-Só uma vez, por favor.
-Eu já disse que você vai perder.
-E não é que você conseguiu? – um menino falou
-Foi xunxo.
-Foi xunxo só porque eu ganhei, né? – retruquei
Tentei novamente e faturei 18 reais naquele dia. A notícia se espalhou e eu acabei me tornando a lenda do colégio. Ninguém nem mais lembrava que eu paguei aquele mico e, aliás, os garotos estavam vindo até mim para aprender macetes de como ganhar dinheiro fácil nos caça-níqueis e eu, claro, me fazia, dizia que era pura sorte, até porque estava adorando todo mundo babando meu ovo.
Se em casa eu era a idiota tratada como nada, ao menos do portão do colégio para dentro meu mundo era outro e eu adorava viver lá. Por mim escola seria asilar igual naquelas novelas que eu via na tv.
Nosso esquema era chegar sempre meia hora antes de começar as aulas e ír até o posto de gasolina que ficava em frente a escola, mas sem dar muita pinta porque a inspetora era uma velha dedo-duro e se a diretora soubesse, estaríamos todos encrencados, sobretudo eu que levaria outra violenta surra de mamãe.
Tão logo as meninas da minha classe estavam jogando, mas só eu ganhava, tanto que podia comprar lanche todos os dias, garantir a edição semanal da minha revistinha, os chicletes com figurinhas da Barbie, da Copa (completei o álbum), da novelinha (aquela era legal de verdade, sem maldade, putaria, enfim, antes sabiam produzir para os jovens sem os tratar como retardados), animais em extinção e sim, até cds dos Hanson, BSB e Spice Girls eu comprei com o dinheiro.
-De onde tudo isso? – minha mãe, encafifada, perguntava
-Ganhei da Mari Oliveira. Não lembra que ela me adora?
E realmente em partes era verdade. A Mari Oliveira sempre me presenteava com balas, chicletes, canetas e até caderninhos. Muitos deles tornaram-se diários e as canetas me davam sorte.
Tudo, aos poucos, voltou ao normal. Na semana de jogos, mesmo sendo uma negação em Ed. Física, participei só porque não queria ficar em casa. A presença era facultativa, no entanto, aproveitei para jogar mais ainda porque queria completar a coleção de cds, porém, a inspetora dedo duro, muito certamente, descobriu que a galera estava pulando o muro pra brincar nos caça-níqueis.
Eu estava ferrada!
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