13 de abril de 2012

Simplesmente Tita - Cap 57 - Acertando as contas! (4ª TEMPORADA)



Felix e Helena continuavam residindo na mesma casa de outrora. Papai, como sempre, não se encontrava, então primeiramente encarei Helena, alguns anos mais velha e uns quilos mais gorda. O sorriso jovial manteve-se intacto. Tratou-me de forma gentil e corroborava exultação ao me rever. Em sua memória fotográfica eu ainda era aquela menina sapeca de 11 anos.

-O tempo foi indulgente com você, Tita. Está muito mais linda do que me recordava. Tornou-se mesmo uma mocinha. Uma linda mocinha. – abraçou-me com força

Também não era para tanto.


-Está faminta? O almoço está quase pronto. – conduziu-me até a cozinha - Ainda gosta de lasanha e batata-frita? Infelizmente eu só poderei olhar. O médico me proibiu por causa do colesterol.

Sentamo-nos à mesa e nos alimentamos juntas. Helena não estava risonha por ter de se contentar com legumes e verduras enquanto eu caía de boca nas massas.

- E aí, como foi o primeiro dia de aula? - perguntou

-Normal... – respondi

-Mudar de escola nem sempre é fácil. No começo é um mundo estranho e chato, mas ao longo dos dias você se acostuma e já se enturma com o pessoal.

-Qualquer coisa é melhor que meu antigo colégio.

-Era tão ruim assim?

Ruim ainda era muito pouco para adjetivar aquele inferno. Até mesmo a instituição mais barra pesada ainda assim era melhor que suportar Cássia e sua tropa diabólica.

-Meire disse que você já se assumiu homossexual.

-Não sou homossexual.

-Não tem problema, querida. As dúvidas são normais nessa fase, mas independente da sua opção, seu pai e eu estamos ao seu lado.

-Eu gosto de garotos. Só não tenho namorado. – reiterei - Mamãe me julgou pelo que falavam no outro colégio. Uma menina idiota que nunca gostou de mim me debochou porque eu chorei pela morte da Aline e a partir dali me taxou de sapatão e virou modinha me xingar.

-Aline, aquela menininha que foi à praia com a gente? – balancei a cabeça e ela suspirou alto - Não me diga que ela morreu? – chocou-se – Faz quanto tempo isso?

-Três anos em junho. Acidente de carro.

Relembrar a morte de Aline ainda me fazia ostentar os olhos marejados. O 3º estágio do luto era a aparente conformidade, apesar de eu nunca conseguir perdoar o motorista que causou o acidente, muito menos mamãe que sequer permitiu acompanhar o enterro até o final.

Quando dei por mim, estava chorando deitada no colo de Helena e lhe contando tudo que enfrentei desde que papai e ela nunca mais apareceram.

-Meire perdeu completamente o juízo, criança. Como a impediu de se despedir da melhor amiga? Isso não se faz.

Helena era uma terapeuta nata.

-Por que você e papai não vieram me buscar? Por quê?

-Nós viemos, Tita.

-Eu esperei o dia todo e ninguém apareceu.

Helena não tinha intenção de dedurar Meire, entretanto, teve de abrir o jogo e relatar que meu pai foi ameaçado de prisão caso tentasse me tirar daquela casa.

-Por que ela fez isso? – chorei e abracei Helena ao relembrar da terrível surra que levara naquela noite

-Seu pai fala sobre você todos os dias. Passou o dia dos 15 anos chorando, pensando em você, imaginando como já estaria. Admito que conheço meu marido há mais de 10 anos para afirmar que ele não é um homem de desabar facilmente. E ele chorou. Muito.

Quando ingressei na 6ª série lembro-me de que mamãe trocou o número de telefone e não passou a quase ninguém, quase me estrangulando quando Aline e Adolfo me telefonavam.

-Se lembra do seu quarto rosa?

-Bem... Lembro...

Ele existia realmente e estava a minha espera como se durante os anos em que me mantive afastada, papai e ela sempre estivessem me aguardando.

-Não sabia que tom colocar na parede, então utilizei esse que não é muito chamativo e combina com qualquer colcha. – apoiou seus braços em meus ombros – Gostou?

Felix costumava chegar do trabalho por volta das 18h00min. Eu não imaginava especificamente como reagiria a contemplar sua imagem e ao vê-lo girar a maçaneta e abrir aquele sorriso perfeito, lágrimas começaram a cair sem controle. Ele também se emocionou.

-Tita!

Abriu os braços e neles me aconcheguei. Por alguns minutos senti os dedos de meu pai contatarem com as mechas de meu cabelo, aspirando ao aroma de meu xampu, beijando minha testa, minha mão, sem acreditar que eu estava exatamente a sua frente.

-Como você cresceu, minha princesa. Nem mesmo em minha imaginação poderia assegurar que estava tão linda assim.

-Sei que não sou linda.

-Meninas invejosas lhe disseram isso.

-Sou uma gorda feia.

-Você é linda como é. – enxugou minhas lágrimas com as mãos em forma de conchas – Não precisa chorar, minha linda. Papai te ama e ninguém aqui fará mal a você.

Papai esclareceu em detalhes o que ocorreu no dia em que marcou de me buscar e mamãe o escorraçou sem direito a réplica ou mesmo um último abraço.

Se minha vida era um conto de fadas, certamente era uma história a qual a mocinha chorava bastante, sempre quando ninguém podia ver, pois diante de todos estampava o sorriso fotográfico que dava a impressão de que tudo estava bem. A Meire tudo estava sim. Eu ainda era a personagem principal da peça, embora agisse como mera figurante da própria história.

Naquela noite foi até ‘ridículo’ mencionar, mas acabei dormindo junto com o casal como se fosse uma criança. Estava tão cansada que deitei-me de um lado e passei a noite inteira na mesma posição, despertando tranquila como não acontecia desde a 5ª série.

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