1 de fevereiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 16 - Escrito nas estrelas...


-Minha mãe ordenou e a última palavra é sempre dela. Sabe como são as mães.


-Meu padrasto também é autoritário. Odeio isso. – ele bufou – Então bem lá no fundo você me entende...

-É... Quase isso...

Felix e Helena me tratavam como rainha. Eu podia assistir o que queria na tv até a hora em que sentisse sono; comia muitas porcarias que minha mãe não curtia e podia conversar sem precisar levar um tapa na cara. Isso era tão bom.

Helena não parecia aquele monstro que imaginei aos 7 anos. Ela era tão dócil, não erguia a voz nunca e realmente tinha harmonia com meu pai, algo que minha mãe e Horácio não tinham.

Sentada na banqueta de onde fazíamos nossas refeições, conversava com Helena exatamente como fazia com a prof Daniela.

-Se quiser convidar suas amiguinhas para passarem as férias aqui é só ligar. Felix e eu estamos pensando em ficar uns dias a mais. Ta tão gostoso aqui que nem dá vontade de voltar.

-Posso mesmo?

Telefonei realmente, mas MF estava em Floripa com MO. Só havia uma pessoa que estava em Curitiba e eu não pensei em ninguém melhor. D. Nice não pensou duas vezes.

-Claro que a Aline pode ir sim. Coitadinha, ta tão triste em casa...

Felix voltou para Curitiba porque não queria que Nice gastasse um centavo com passagens e eu fui junto. Ela até chorou de alegria ao me ver.

-To me sentindo um nada nessas férias. Todo mundo me abandonou.

-Por que não ligou lá em casa?

-Não posso falar... Tenho vergonha.

-Deixe disso, criança. Pode ligar sempre que quiser. – Felix avisou

-É que meu telefone tava cortado, tio. Arrumar emprego ta tão difícil que eu to pensando em largar o colégio pra ajudar minha mãe.

-Não pense nisso, Aline. Estudando é que se consegue um bom emprego.

No trajeto de volta a praia comemos salgadinho com refrigerante e meu pai mostrou-se muito sensibilizado com a história da D. Nice, tanto que assim que chegou a casa novamente, passou algum tempo no telefone.

Aline em um mês já havia terminado com Juquinha e estava gostando do Mauro, um vizinho novo que se mudou, mas ele tinha namorada e ela estava de fossa, louvando a Deus pela viagem pra esquecer um pouco dos problemas.

Aline aos 11 já se apaixonava com tanta facilidade e eu nem sequer pensava nisso. Se conseguisse escapar do inferno em fevereiro já seria a pré-adolescente mais feliz do planeta, sem exageros.

-Meu pai era igualzinho ao seu pai.

-Por que disse as meninas que seu pai é rico? Por que não disse a verdade?

-Você acha que elas iriam ser minhas amigas se eu fosse 100% sincera?

Eu também mentia às vezes. Até o dia em que fui à casa de Aline, a achava a menina mais perfeita e sortuda do mundo, modificando totalmente minha visão naquela tarde. O que não imaginava era encontrar alguém que mentisse mais ainda. Nós duas juntas poderíamos fazer uma parceria e escrever novelas infantis. Enriqueceríamos com nossas imaginações férteis até por demais.

Ao fim do dia, quando estávamos esparramadas no sofá vendo Mundo da Lua, o telefone tocou. Era para Aline.

-VOCÊ CONSEGUIU O EMPREGO, MAMÃE? – Aline começou a chorar na linha – Então eu não vou precisar sair da escola?

Vendo meu pai tomando café na cozinha, voltei a admirá-lo como se ainda fosse aquela menininha de 6 anos. Mesmo praticamente com um pé na adolescência, papai voltou a ser meu herói, meu melhor amigo e 1999 prometia ser melhor que 98. Estava escrito nas estrelas.

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