Encontrei um menino bem encabulado escutando música no carro de seus pais, um Corsa bordô modelo 97. Acenei e dei uma batidinha no vidro.
-Isso não é música pra menino. – gritei como se fosse dona da canção
-Menininha.
Ele gamou em Too Much, pois ouviu umas 10 vezes seguidas até o pai reclamar que iria gastar a bateria.
-Por que não vai à praia, hein? – gritou o homem, de dentro de casa – Não aguento mais essa maldita música.
Ri alto. Ele era um babaca, por isso mesmo os outros meninos do condomínio o zoavam. Ouvindo musiquinha pra menina, se bem que disse aquilo só para provocar e isso ele deve ter sacado de primeira.
-De que ta rindo?
-Você é um idiota. – caçoei e não seria nada mau tirar um sarro daquele gordinho besta – Escutando música pra menininha.
-Menininha é você que escuta isso. – ele revidou
-Ah sim...
-Ta me seguindo, é?
-A praia é de todos, não só sua.
-Seria bom levar bóia pra não se afogar, tampinha.
Dei uma gravata nele no meio da rua.
-ME CHAMOU DO QUE, SEU GORDINHO BESTA?
-TAMPINHA.
Derrubei o gordinho no chão, que para me zoar, abaixou minha saia e riu.
-Não vi nada de engraçado.
Chegamos à praia apostando corrida e brigando. 3 horas depois, vermelha, voltei para casa e virei a noite febril, aos cuidados de Felix e Helena, que sequer dormiram.
O garoto sem noção também deve ter passado mal porque não foi à praia na manhã seguinte, muito menos à tarde. Ficou ouvindo Raimundos no quarto. Vira e mexe ouvia os gritos do pai dele, versão masculina da Meire.
No final da tarde, após o Chaves, quando saí para comprar sorvete, o encontrei no balcão e ele, acenando, me cumprimentou.
-E aí, vizinha?
-Ah, beleza... – sacudi os ombros
-Também gosta de Chaves?
-Ta brincando? Seu Madruga é lenda...
-Enfim, uma menina legal.
-Ah, valeu...
-Ontem eu nem me apresentei. Meu nome é Adolfo. – estendeu a mão
-Sou Tita. – retribuí o gesto – Desculpa por ontem...
-Até que a tampinha sabe brigar direitinho.
-Me chama de tampinha que eu roubo seu sorvete.
Passeamos pelas redondezas e ele me contou que ficaria até o final do mês porque seu padrasto estava trabalhando no litoral. Filho único, não se entendia muito bem com o novo marido de sua mãe, ao menos compreensiva.
-Curitibano também? – prolonguei um pouco a conversa
-Na verdade sou Gaúcho, mas moro aqui desde os 6 anos.
-Legal... – caminhava chutando de leve umas pedrinhas
Adolfo me contou que seu colégio era um porre e por ele o explodia ou nem ia mais. Para me achar, contei, por minha vez, que o meu era um paraíso e eu estava triste por ser férias. Ele até riu.
-Também não é pra tanto.
-Diz isso porque não vive lá.
-Então por que vai sair?
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