31 de janeiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 15 - Garoto sem noção!


Encontrei um menino bem encabulado escutando música no carro de seus pais, um Corsa bordô modelo 97. Acenei e dei uma batidinha no vidro.

-Isso não é música pra menino. – gritei como se fosse dona da canção

Ele abriu o vidro, mostrou a língua e continuou ouvindo como se não tivesse me visto.


-Menininha.

Ele gamou em Too Much, pois ouviu umas 10 vezes seguidas até o pai reclamar que iria gastar a bateria.

-Por que não vai à praia, hein? – gritou o homem, de dentro de casa – Não aguento mais essa maldita música.

Ri alto. Ele era um babaca, por isso mesmo os outros meninos do condomínio o zoavam. Ouvindo musiquinha pra menina, se bem que disse aquilo só para provocar e isso ele deve ter sacado de primeira.

-De que ta rindo?

-Você é um idiota. – caçoei e não seria nada mau tirar um sarro daquele gordinho besta – Escutando música pra menininha.

-Menininha é você que escuta isso. – ele revidou

-Ah sim...

-Ta me seguindo, é?

-A praia é de todos, não só sua.

-Seria bom levar bóia pra não se afogar, tampinha.

Dei uma gravata nele no meio da rua.

-ME CHAMOU DO QUE, SEU GORDINHO BESTA?

-TAMPINHA.

Derrubei o gordinho no chão, que para me zoar, abaixou minha saia e riu.

-Não vi nada de engraçado.

Chegamos à praia apostando corrida e brigando. 3 horas depois, vermelha, voltei para casa e virei a noite febril, aos cuidados de Felix e Helena, que sequer dormiram.

O garoto sem noção também deve ter passado mal porque não foi à praia na manhã seguinte, muito menos à tarde. Ficou ouvindo Raimundos no quarto. Vira e mexe ouvia os gritos do pai dele, versão masculina da Meire.

No final da tarde, após o Chaves, quando saí para comprar sorvete, o encontrei no balcão e ele, acenando, me cumprimentou.

-E aí, vizinha?

-Ah, beleza... – sacudi os ombros

-Também gosta de Chaves?

-Ta brincando? Seu Madruga é lenda...

-Enfim, uma menina legal.

-Ah, valeu...

-Ontem eu nem me apresentei. Meu nome é Adolfo. – estendeu a mão

-Sou Tita.  – retribuí o gesto – Desculpa por ontem...

-Até que a tampinha sabe brigar direitinho.

-Me chama de tampinha que eu roubo seu sorvete.

Passeamos pelas redondezas e ele me contou que ficaria até o final do mês porque seu padrasto estava trabalhando no litoral. Filho único, não se entendia muito bem com o novo marido de sua mãe, ao menos compreensiva.

-Curitibano também? – prolonguei um pouco a conversa

-Na verdade sou Gaúcho, mas moro aqui desde os 6 anos.

-Legal... – caminhava chutando de leve umas pedrinhas

Adolfo me contou que seu colégio era um porre e por ele o explodia ou nem ia mais. Para me achar, contei, por minha vez, que o meu era um paraíso e eu estava triste por ser férias. Ele até riu.

-Também não é pra tanto.

-Diz isso porque não vive lá.

-Então por que vai sair?

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