27 de janeiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 13 - Despedida!


Nas últimas semanas de aula a bagunça era a principal matéria do colégio e nela todos eram aprovados. O uso do uniforme já era facultativo, mas mesmo assim minha mãe não me permitia desobedecer. Eu colocava minhas peças no forro da mochila, chegava à escola e ia me trocar. Ela jamais ficou sabendo.


Prof Daniela e Prof Vando acabaram assumindo namoro. Foi lindinho ver os dois caminhando de mãos dadas em um intervalo bem formal com as meninas da 8ª série dançando Spice up your life, chorando e tirando fotos. Sempre que podia comprava os quitutes que elas preparavam para arrecadar fundos para a formatura. Até pôster do Di Caprio, Hanson, BSB e Spice Girls elas estavam vendendo a nós ‘fedelhas’ para poderem ter a festa que queriam.

 A diretora, indulgente, permitiu que no último dia de aula, aproximadamente a primeira sexta-feira de dezembro, antes das provas de recuperação, o povo do 8º ano, que se despediria da instituição, organizasse uma festa a qual marcaria o fim do ano letivo. Era proibido aparecer uniformizado. Minha mãe não queria me deixar ir, mas eu inventei que quem não comparecesse levaria falta.

Parecia até cenário de final de novela infantil quando todos os dilemas se resolvem, o casal de professores amado pelos alunos anuncia o casamento e a protagonista dança, sorri e se diverte como se nada tivesse acontecido. Eu não tinha um parzinho, mas me sentia muito bem acompanhada pelos meus amigos, até porque me entrosava com a galera da 8ª série, responsáveis pela trilha sonora.

Pulamos corda, comemos, fizemos a entrega de presentes do nosso amigo secreto. Eu peguei a Aline e resolvi dar-lhe uma agenda bem linda a qual até assinei e comprei uma cartela de adesivos fofinhos. Ela adorou.

Aline pegou a MF e a presenteou com uma pulseirinha da amizade e um cd de Sandy & Junior, bem como Mari falou por tempos.

-Acho que vai riscar de tanto que vou ouvir.

-Vai ouvir pensando no bonitinho. – zoamos

-Quem disse? Já nem gosto mais dele...

MF me pegou e me deu um mini álbum com algumas fotos que tiramos ao longo do ano.

-Que lindo!

-A camiseta do colégio estragou tudo, mas até que ficou jóia.

-Eu adoro a camiseta do colégio. – me emocionei – Adoro esse uniforme porque foi vestida nele e pisando aqui que vivi o melhor ano da minha vida.

-Que profundo! – as meninas me aplaudiram querendo chorar

-Foi nada não... – enxuguei as lágrimas – Não quero estragar esse momento lindo chorando, né? Fui tão feliz aqui...

-Ainda somos, bobinha. – Aline disse

Aline tinha razão!

Minha mãe poderia mudar de ideia caso viesse me buscar e visse o quanto eu era feliz ali. Não fazia sentido retornar aquele colégio onde vivi os piores anos da minha vida.
As meninas da 8ª série dançaram Spice up your life e foram aplaudidas por todos.

Profs Dani e Valdo estavam juntinhos e dava até gosto de observá-los sentados com as mãos bem juntinhas, mas sempre respeitadores. Quem diria que o amor nasceria em meio a provas, trabalhos e tantas diferenças, mas nasce e deixa as pessoas mais bonitas, o ambiente mais cheio de vida, toda alegria que em casa desconhecia.

Prof Vando era tido como rígido e inflexível, porém em público às vezes pagava micos e isso o deixava mais próximo de nós. Dizia odiar as ‘pragas da moda’ só para ver nós menininhas revoltadas e não tinha medo de nos fazer pensar, estudar de verdade e muito menos de castigar.

Prof Daniela, mais doce, era de poucas palavras com os outros alunos e alguns até a consideravam chata e antipática, entretanto, comigo ela sempre foi um amor de pessoa e me deu alguns puxões de orelha, porém se emocionava quando avisei que iria voltar para o antigo colégio.

A diretora levou o marido e os filhos a confraternização e nem parecia aquela senhora taciturna do cabelo Chanel que só gritava e dava ordens. Mãe zelosa e atenciosa, conversava conosco de igual para igual como se também fossemos seus filhos e até se deixava chorar um pouco ao falar ao microfone acerca do ano que se encerrava.

João e os meninos continuavam fazendo macaquices e mesmo sendo bem menos sensíveis que as meninas, desabaram e se abraçaram. Eu ri um pouco. João era sempre tão machão e chorou assim como eu, como Aline, MF, MO, Rafaela. Quem não chorou, certamente, não estava ali e não viveu tudo aquilo.

Lembro-me até hoje de todas as músicas que tocaram: Beautiful life e Cruel Summer – Ace of Base, Wishing I was there e Torn – Natalie Imbruglia (sucessos daquele ano), Viva forever – Spice Girls (nós choramos), Stop right now, Wannabe, Say you’ll be there (nós dançamos com bambolês), As long as you loved me e Everybody – BSB, Beijo é bom, Vai ter que rebolar, Inesquecível, Era uma vez e Eu acho que pirei – Sandy & Junior, além de Claudinho e Bochecha e muito rock’n roll em geral por conta de João e seus amigos que curtiam Offspring, Raimundos, Charlie Brown Jr, Gabriel O Pensador, Titãs, enfim, respeitando todas as preferências, o que foi o diferencial.

A galera assinou minha camiseta e eu só não participei das ovadas porque minha mãe chegou antes das 17h30min e ainda reclamou porque demorei 1 minuto para entrar no carro.

-Por isso não gosto dessa escola. Viu só? Ainda ta chorando...

-To chorando porque adoro essa escola e nem queria ter férias.

-Deve estar falando isso porque deve ter tirado nota baixa.

Meire não imaginava o quanto eu adoraria que o colégio fosse interno só para poder dormir lá e só vê-la no máximo uma vez por ano.

-Só me atrasei um minuto, mãe. Hoje era o último dia de aula...

-Ainda bem que a partir do ano que vem as coisas voltam ao normal...

Para ela. Para mim era o fim dos sonhos novamente.

-Olha só que selvageria. Se eu visse você agindo dessa forma, te surrava pelada debaixo do chuveiro quente.

-Pois saiba que eles são gente muito boa e se divertem muito mais que você que fica só criticando e recriminando todo mundo. Saiba que eu gosto muito mais da prof Daniela do que de você.

-Então pede pra ela te adotar.

-Eu bem que adoraria.

Levei uma bofetada tão forte que a marca da palma da mão ficou marcada no meu rosto por um bom tempo.

-Eu sou feliz nesse colégio e você vai me tirar de lá pra colocar naquele inferno de novo onde todo mundo me maltratava.

-Não invente mentiras, Renata. A professora sempre disse que você era o problema.

-Ela era uma mal comida, implicante...

-Os professores daqui também disseram que você não tem jeito.

-Quem? Quero os nomes.

-Muitos.

-Pois saiba que sou uma das melhores alunas da sala e meus professores gostam muito de mim. Todos.

Tudo bem que as profs de Ed. Física e Artes eram umas grossas, mas ao menos reconheciam meu esforço para fazer tudo certo.

Minha mãe era sempre fria, indiferente e dizia que eu era egoísta, problemática, mas nunca participou do meu mundo, das minhas descobertas (por ela eu seria uma nerd que nem a luz do sol vê) e não fazia questão de saber nada sobre mim. Ou eu fazia o que ela queria ou apanhava, apesar de que era surrada mesmo fazendo tudo certo. O problema era ela.

Enquanto esperava o sinal abrir, vi João espirrando catchup nas minhas amigas, até o prof Vando zoando junto e chorei mais ainda. Aliás, chorei até dormir ouvindo as músicas da festa, pensando em como precisaria ser forte para retornar ao lugar onde mais fui infeliz e talvez até em um jeito de escapar do próximo ano letivo. Infelizmente, como minha própria mãe bradava: criança não tem querer!

FIM DA 1ª TEMPORADA!

2 comentários:

  1. Na hora que eu pensei que ela tava feliz ... =T
    Pior que quando eu mudei de colégio tbm eu chorei, mas chorei kkkk

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  2. Eu chorei quando mudei pro colégio militar... O pior ano de todos kkkk....

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