26 de janeiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 12 - Incrivelmente lindo!


-Acho que não entendi direito, mãe. Vou voltar pra aquele inferno?

-Inferno? Aquele colégio é maravilhoso, Renata. Eu, particularmente, nunca fui favorável à transferência porque sabe, essa escola te deixou muito mal criada, preguiçosa, respondona, andando com gente favelada...


Aline era uma pessoa simples, mas também não precisava humilhar assim. Acima de tudo ela era uma criança como eu e não vivia daquela forma porque escolheu.

-Eu queria te transferir hoje mesmo, mas para esse ano é inviável.

Graças a Deus!

-Ano que vem você volta pro se antigo colégio onde estudará de manhã e eu poderei te levar e buscar.

-Não precisa, mãe. Eu sei ir sozinha.

-Quem manda nessa casa sou eu e a última palavra é minha. Você não tem que concordar ou discordar de nada. Só obedecer.

-Isso não é justo...

-Pode chorar, espernear, fazer o que quiser:  já tomei minha decisão.

-Eu gosto da minha escola.

-Mas eu sei o que é melhor pra você.

-Nem sempre, mãe.

-Não me faça te dar um bom motivo pra chorar.

Chorando, fui para meu quarto e não fiz questão de droga nenhuma de parabéns e bolo. Minha mãe achava que aniversário era isso.

No outro dia também chorei no colégio. As meninas também. Querendo ou não, nós nos divertíamos muito juntos e éramos como uma família comum que briga, discute e compartilha experiências, momentos únicos e ali, apesar das mancadas, todos me respeitavam. Ali sim era o ambiente estudantil que sonhei em viver o primário todo.

Minha mãe, egoísta mais uma vez, decidia minha vida sem me perguntar o que EU sentia, o que EU pensava a respeito. Ai de mim se acrescentasse uma vogal em seu roteiro imaginário chamado Tita.

-Por que voltar pra lá? – perguntou Aline, agora decidida a engordar um pouquinho

-Coisas da minha mãe. – respondi abraçada às meninas

-Ano que vem vai ser tão legal: vão misturar as meninas da 5ª A com a nossa e pensando bem a gente falou tão mal delas no começo do ano e no fim elas são tão legais. – Mari Oliveira avisou – E eu vou passar enfim... To tão feliz...

Se eu soubesse que até as rixas ficariam na saudade, teria me preocupado menos e curtido mais. Rafa, Daisy, Kelly, Aline e eu éramos apenas crianças e na simplicidade de quem aprende vivendo, descobríamos que nem sempre a primeira impressão é a mais sincera.

-Já eu, gatinhas, vou repetir. Se minha mãe souber, come o meu fígado. Aquele Vando bruxo me paga.

-O Vando sem sobrenome... – MO zoou

 – Não tão sem sobrenome assim... – Aline deixou escapar

-Oi?

-Conheço o Figueira de longas datas. Ele é lá da minha cidade.

-Não brinca? – todas nós falamos juntas

-E eu sei o telefone dele.

-Dez balas se você contar. – MF ordenou

-20.

-15.

-20.

-Ta ok, 20.

-E é verdade que o Vando é solteirão?

-É e não é... Se perceberam, ele tem uma queda secreta pela prof Daniela.

-Eles fariam um casal legal. – admiti

-Ta aí o peixinho da professora Daniela. – todas falaram juntas

Vando e Daniela bem que poderiam ser meus pais. Juro que seria a filha mais comportada do mundo. Juro.

-Ela também o curte bem lá no fundo. – Aline parecia saber de algo mais

-Aline, a consultora de relacionamentos... – MF brincou

MF, com sua caneta permanente, pichou o número do prof Vando em todos os orelhões do colégio e ele recebeu tantos telefonemas de crianças que comunicou a diretoria. No dia seguinte precisei buscar um Xerox para a prof de Inglês quando o encontrei gesticulando na sala dos professores. Prof Daniela estava muito próxima dele. Escondi-me por perto da porta para não interromper a conversa. Foi a primeira vez que vi dois adultos se beijando de verdade. Incrivelmente lindo.

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