25 de janeiro de 2012

Simplesmente Tita - Cap 11 - De molho...


-Ela disse que a casa delas aqui não era muito bonita em vista da mansão no Guarujá. - protestei

-Mansão no Guarujá é uma ova. Ela é uma favelada. Vamos embora.

-Eu prometi que ia passar a matéria pra ela. Não posso voltar atrás com minha palavra.

-Ta. – bufou – Às 18h00min eu venho te buscar.

Bati palmas e em seguida uma mulher franzina, com o rosto bastante cansado e entristecido, veio ao meu encontro e sorriu.

-Tita?

-Sou eu.

-Que bom que você veio!Aline está te esperando.

Aline podia até residir em um barraco simples, mas o local era extremamente organizado.

-Aline passou o feriado no PS, Tita. Deu dó de ver.  – me chamou para acompanha-la - A virose a derrubou e não veio em hora pior, criança. Desde a morte do pai de Aline estamos vivendo um inferno astral: a mãe dele quis nosso terreno de volta e me despejou com as crianças, então viemos pra cá achando que teríamos mais chance de progredir e nem emprego to conseguindo. Parece que quando você mais precisa não tem ninguém.

O pai de Aline morreu de câncer havia 6 meses e Aline estava sofrendo muito com a repentina mudança de cidade. Então não existia mansão nenhuma, muito menos papai rico. Nada. Aline era uma impostora que roubou minhas amigas. Bem-feito que estivesse doente. Assim deixaria de ser metida.

-Aline me disse que você é a melhor amiga dela, que foi a única que realmente quis conversar com ela quando chegou ao colégio e me pediu para que te ligasse.

Que estranho!

Aline era carne e unha com Mari Franco, viviam de segredinhos ao telefone, me taxando de criancinha, me excluindo de todos os babados e bastou ficar doente para se lembrar de mim. Mari não prestava mais?

-O quarto da Aline fica por ali.

-Obrigada, dona mãe da Aline.

-Dona Nice, meu anjo.

-Certo, dona Nice.

Quando olhei por uma porta e encontrei Aline deitada na cama pálida, cercada de bichinhos de pelúcia e com o som ligado para amenizar a solidão, senti-me um verme por julgá-la de forma errada. Aline chorou ao me ver.

-Que bom que veio, Tita. To me sentindo um nada nessa cama. Basta a gente ficar doente que todo mundo some.

-Pensei que encontraria as Maris aqui.

-Que nada... Nem ligaram pra mim... Nem ligam... Só falam comigo porque acham que meu pai é rico. – desabou

-Elas não saberão de nada.

-Você tem que prometer...

-Eu prometo.

Não ganharia nada difamando Aline, ainda mais na reta final do ano. Naquela tarde conheci o outro lado da menina precoce. Brincamos de boneca, ouvimos música e assistimos Mundo da Lua (ela era apaixonadinha pelo Lucas Silva e Silva), Chaves (ela adorava a Chiquinha), Chapolin e eu, que pretendia ir embora às 18h00min, acabei dormindo junto com Aline e o irmão dela de 5 anos, o fedelho, como ela insistentemente o chamava.

Mesmo enfrentando necessidades, Aline e Nice fizeram questão de que eu almoçasse com elas na manhã de meu aniversário. Mamãe foi contrária, mas acabou trazendo meu uniforme. Eu já estava acostumada a ir à aula de ônibus e encontrar a galera do colégio no terminal.

Era praxe todo aniversariante levar ovada e eu, logicamente, não escaparia da tradição. Ao voltar para casa, encontrei minha mãe falando ao telefone. Ela só não me bateu porque era meu aniversário e estava bem humorada, evento raríssimo.

-O que fizeram com você, criatura?

-Todo mundo leva ovada no aniversário. É normal lá no colégio. Não sei na tua época, mas na minha é e ninguém reclama.

-Acredito que irá gostar muito dessa notícia.

-Qual?

-Estive conversando com Horácio e nós decidimos que no ano que vem você voltará para seu antigo colégio...

COMO?

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