-Ela disse que a casa delas aqui não era muito bonita em vista da mansão no Guarujá. - protestei
-Ta. – bufou – Às 18h00min eu venho te buscar.
Bati palmas e em seguida uma mulher franzina, com o rosto bastante cansado e entristecido, veio ao meu encontro e sorriu.
-Tita?
-Sou eu.
-Que bom que você veio!Aline está te esperando.
Aline podia até residir em um barraco simples, mas o local era extremamente organizado.
-Aline passou o feriado no PS, Tita. Deu dó de ver. – me chamou para acompanha-la - A virose a derrubou e não veio em hora pior, criança. Desde a morte do pai de Aline estamos vivendo um inferno astral: a mãe dele quis nosso terreno de volta e me despejou com as crianças, então viemos pra cá achando que teríamos mais chance de progredir e nem emprego to conseguindo. Parece que quando você mais precisa não tem ninguém.
O pai de Aline morreu de câncer havia 6 meses e Aline estava sofrendo muito com a repentina mudança de cidade. Então não existia mansão nenhuma, muito menos papai rico. Nada. Aline era uma impostora que roubou minhas amigas. Bem-feito que estivesse doente. Assim deixaria de ser metida.
-Aline me disse que você é a melhor amiga dela, que foi a única que realmente quis conversar com ela quando chegou ao colégio e me pediu para que te ligasse.
Que estranho!
Aline era carne e unha com Mari Franco, viviam de segredinhos ao telefone, me taxando de criancinha, me excluindo de todos os babados e bastou ficar doente para se lembrar de mim. Mari não prestava mais?
-O quarto da Aline fica por ali.
-Obrigada, dona mãe da Aline.
-Dona Nice, meu anjo.
-Certo, dona Nice.
Quando olhei por uma porta e encontrei Aline deitada na cama pálida, cercada de bichinhos de pelúcia e com o som ligado para amenizar a solidão, senti-me um verme por julgá-la de forma errada. Aline chorou ao me ver.
-Que bom que veio, Tita. To me sentindo um nada nessa cama. Basta a gente ficar doente que todo mundo some.
-Pensei que encontraria as Maris aqui.
-Que nada... Nem ligaram pra mim... Nem ligam... Só falam comigo porque acham que meu pai é rico. – desabou
-Elas não saberão de nada.
-Você tem que prometer...
-Eu prometo.
Não ganharia nada difamando Aline, ainda mais na reta final do ano. Naquela tarde conheci o outro lado da menina precoce. Brincamos de boneca, ouvimos música e assistimos Mundo da Lua (ela era apaixonadinha pelo Lucas Silva e Silva), Chaves (ela adorava a Chiquinha), Chapolin e eu, que pretendia ir embora às 18h00min, acabei dormindo junto com Aline e o irmão dela de 5 anos, o fedelho, como ela insistentemente o chamava.
Mesmo enfrentando necessidades, Aline e Nice fizeram questão de que eu almoçasse com elas na manhã de meu aniversário. Mamãe foi contrária, mas acabou trazendo meu uniforme. Eu já estava acostumada a ir à aula de ônibus e encontrar a galera do colégio no terminal.
Era praxe todo aniversariante levar ovada e eu, logicamente, não escaparia da tradição. Ao voltar para casa, encontrei minha mãe falando ao telefone. Ela só não me bateu porque era meu aniversário e estava bem humorada, evento raríssimo.
-O que fizeram com você, criatura?
-Todo mundo leva ovada no aniversário. É normal lá no colégio. Não sei na tua época, mas na minha é e ninguém reclama.
-Acredito que irá gostar muito dessa notícia.
-Qual?
-Estive conversando com Horácio e nós decidimos que no ano que vem você voltará para seu antigo colégio...
COMO?
Até hoje eu sempre escapei das ovadas, rsrs
ResponderExcluirEu também rsrsrs
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